O ano de 2021 já se aproxima do terceiro mês e a sensação é de que o ano anterior ainda está longe de acabar.
Essa sensação fez com que a produção de conteúdos aqui no Audiograma fosse impactada e até mesmo reduzida. Contudo, entretanto, todavia, é hora de começar efetivamente o ano e, para isso, nada melhor do que a retomada das nossas listas mensais com bons álbuns lançados.
A lista com os trabalhos lançados em janeiro e que chamaram a nossa atenção finalmente está no ar oferecendo alguns refrescos em meio as questões de saúde pública, problemas sociais, políticos e ambientais. Entre os escolhidos, temos o aguardado álbum de estreia da Arlo Parks, Danna Paola representando a ala latina, o novo do Weezer e outras coisas bem legais. De forma curta, cada um dos escolhidos recebeu uma mini-resenha que explica os motivos que os credenciam para essa lista.
Abaixo você encontra a nossa seleção com os 20 álbuns lançados em janeiro que você deveria ouvir. É só dar play no Spotify e, quem sabe, descobrir algo novo para ser feliz.
Collapsed in Sunbeams, da Arlo Parks
Aguardar o lançamento de artistas tão jovens e cercados de expectativas é sempre uma aventura bastante tensa, pois nunca sabemos o que encontrar. No caso de Arlo Parks, a resposta para essa espera é o envolvente Collapsed in Sunbeams. No seu álbum de estreia, Parks chama a atenção por uma voz que não cansa o ouvinte. Além disso, a melodia pautada no bedroom pop deixa o clima ainda mais hipnotizante, como na maravilhosa “Black Dog”. Com o seu primeiro lançamento, Parks mostra que é uma cantora que tem tudo pra ultrapassar o status de promessa, alcançando o grande público em breve. [RS]
DEMIDEVIL, da Ashnikko
Após chamar a atenção em 2019 com o EP Hi, It’s Me, a rapper Ashnikko coloca no mundo a sua primeira mixtape. Prevista para o ano passado, DEMIDEVIL chegou em janeiro e mostra que a estadunidense é muito mais do que o viral “Stupid”. Mesclando rap, muito pop e pitadas de R&B, Ashton entra uma mixtape bem humorada, com faixas carregadas de potencial – como a já conhecida “Daisy” – e parcerias de peso com Grimes, Princess Nokia e Kelis. [JP]
Dead Hand Control, do Baio
Paralelamente ao Vampire Weekend, o baixista Chris Baio, mantém um projeto solo que lançou o seu terceiro e mais recente álbum, Dead Hand Control. Guiado por um indie pop dançante, o trabalho ganha elementos de Folk e Country em algumas de suas faixas, algo que serve como um respiro interessante para toda a vibe “nightclub” que comanda as suas oito faixas. Ainda que seja mais bem amarrado que os álbuns anteriores, Dead Hand Control acaba se perdendo em alguns momentos, mas nada que prejudique a audição. [JP]
Greenfields: The Gibb Brothers Songbook, Vol. 1, do Barry Gibb
Todos sabemos que o repertório do Bee Gees é rico, clássico, atemporal e, até hoje, ainda é capaz de nos emocionar. Até por isso, Barry Gibb resolveu resgatar algumas das faixas marcantes da carreira e, como único sobrevivente do grupo, prestar um tributo ao legado e aos irmãos Robin e Maurice. Para isso, um álbum com doze faixas guiado pelo country e com convidados como Dolly Parton, Sheryl Crow, Brandi Carlile, Olivia Newton-John e Keith Urban. Não tinha como dar errado. É um verdadeiro presente pros fãs das antigas e para a música, de uma forma geral. [JP]
Not Your Muse, da Celeste
Em seu álbum de estreia, Celeste prova o porque de ser colocada como uma das grandes promessas da chamada Neo-Soul. A artista britânica mescla todos os elementos refinados do gênero, provando ser uma artista forte o bastante para ser uma voz presente e importante por muito tempo. Ainda que “Tonight Tonight” e “Stop This Flame” sejam faixas de pegada pop, Not Your Muse não tem a missão de revolucionar o gênero e ou levá-lo por esse caminho. É só um soul com um frescor 2021 e o resultado é capaz de ficar na memória por muito tempo. [JP]
K.O., da Danna Paola
Danna Paola elevou sua carreira musical para outros patamar após o sucesso da série Elite, da Netflix. Neste álbum ela traz um mix latino que tem até mesmo a participação de Luisa Sonza, no single “Friend de semana”, que provavelmente é a melhor faixa do álbum. O disco traz a sonoridade latina que, inclusive, a Anitta vem tentando trazer em seus novos lançamentos, mas não é algo que vá cativar muito o público brasileiro. Entretanto, não deixa de ser uma boa produção, só não traz nada surpreendente pro cenário pop cada vez mais disputado. [YC]
Heaux Tales, da Jazmine Sullivan
Após seis anos de espera, Jazmine Sullivan está de volta com um EP simples e de objetivo direto: mostrar o quão importante a estadunidense é para o R&B. Após três registros marcantes na carreira, Jazmine não entraria em campo para perder e Heaux Tales cumpre tudo aquilo que se espera. Falando abertamente sobre poder feminino, sexo, amor e relacionamentos na era da internet, inclusive com depoimentos de mulheres como interludes, o compacto é quase um curso gratuito de como se fazer um R&B de qualidade. [JP]
The Hope List, do Lonely the Brave
O The Hope List é mais do que um álbum de rock alternativo, mas uma carta interessante sobre os dias atuais. Com dois dos integrantes do Lonely the Brave na linha de frente do combate à pandemia, as onze faixas do terceiro disco da banda – o primeiro em cinco anos – foram construídas a partir dos sentimentos em torno da experiência e, claro, de todo o contexto de cuidado e isolamento social. Mesclando raiva, tristeza, luta e esperança com guitarras marcantes, o álbum perde quando comparado aos anteriores dos ingleses, mas merece a sua atenção. [JP]
Sound Ancestors, do Madlib
Madlib é um dos nomes mais interessantes na produção dentro do hip hop e isso não é de hoje. Em Sound Ancestors, ele se junta a Kieran Hebden – mais conhecido como Four Tet – para entregar uma bela trilha sonora para te acompanhar em qualquer momento do dia. Ainda que tenha momentos melhores ao longo da extensa – e importante – carreira, o produtor não desaponta ao longo das dezesseis faixas, entregando um hip hop instrumental apoiado por recortes vocais, psicodelia, jazz e experimentalismo. [JP]
Palberta5000, do Palberta
Em seu quinto álbum de estúdio, a Palberta tenta promover um encontro entre o punk experimental e o pop mainstream. Sem deixar de lado os seus riffs, o trio formado pelas estadunidenses Lily Konigsberg, Anina Ivry-Block e Nina Ryser tentam encontrar um equilíbrio entre esses dois mundos bem distantes. Em muitos momentos, o álbum cumpre o seu objetivo e merece destaque. Em outros, parece perdido e repetitivo, mas nada que atrapalhe. [JP]
Magic Mirror, da Pearl Charles
Difícil não imaginar um globo brilhante descendo do teto já nos acordes iniciais de “Only For Tonight” e essa veia disco aparece em diversos momentos de Magic Mirror, segundo álbum da Pearl Charles. É aqui onde a estadunidense se joga de cabeça nas suas referências: o pop-rock gostoso das décadas de 1960 e 1970 que consagrou nomes como ABBA, The Carpenters e Fleetwood Mac. Nesse cenário, faixas como “Imposter”, “Don’t Feel Like Myself” e “Sweet Sunshine Wine” ganham vida e fazem do álbum uma experiência gostosa e muito longe de parecer datada ou uma simples cópia. [JP]
Cheater, do Pom Poko
O quarteto norueguês Pom Poko enfrenta a velha maldição do segundo álbum e não decepciona. Se Birthday (2019) já era um álbum diverso, Cheater promove uma mistura louca de indie rock, pitadas de pop, noise e post-punk, impressionando por conseguir colocar tudo isso num caldeirão sem entornar ou perder a mão. O álbum vai se “quebrando” ao longo de suas dez faixas, sempre te dando uma direção inesperada e até surpreendente. E funciona. “My Candidacy” é prova disso. [JP]
Home, do Rhye
Um álbum ambicioso e minimalista? Por mais contraditório que isso possa parecer, essa é a melhor forma de descrever o Home. Em seu quarto álbum de estúdio, o canadense Mike Milosh entrega um trabalho repleto de camadas e elementos, o que faz dele algo ambicioso. Ao mesmo tempo, tenta preservar o lado minimalista que marca os seus trabalhos anteriores. Com um clima sexy sedutor já conhecido, Home tem algumas das músicas mais interessantes do Rhye. Contudo, acaba escorregando em alguns pontos, deixando uma sensação de anti-climax. Apesar disso, o resultado acaba sendo positivo e faixas como “Black Rain” e “Come In Closer” fazem valer a audição. [JP]
Drunk Tank Pink, do Shame
A banda britânica Shame ficou conhecida por ser mais um nome da recente cena de post-punk graças ao seu som explosivo, pulsante, mas que mostrava ser mais abrangente do que a sonoridade de outras bandas atuais desse mesmo estilo. E isso se confirma com seu segundo disco, Drunk Tank Pink. Produzido pelo célebre James Ford (Arctic Monkeys, Florence + The Machine, Jessie Ware), o quinteto de South London acerta em uma sonoridade mais desacelerada, que flerta com o pop por meio de riffs que martelam na cabeça do ouvinte, sem deixar de serem leves e igualmente viciantes. Vale destacar também o vocal de Charlie Steen, que mais do que nunca percorre vários sentimentos, desde o amor até a melancolia. [RS]
Spare Ribs, do Sleaford Mods
Em seu décimo primeiro álbum de estúdio, o Sleaford Mods entrega uma mistura de sons eletrônicos com um baixo marcante do post-punk e uma série de letras contundentes. O resultado é uma colcha de retalhos excêntrica – por diversos motivos – e de difícil digestão. Ou seja, exatamente aquilo que se espera do duo formado por Jason Williamson e Andrew Fearn. Spare Ribs é aquilo que você não espera ouvir, mas que se torna viciante antes de chegar ao fim. [JP]
THE FUTURE BITES, do Steven Wilson
Previsto inicialmente para 2020, o sexto álbum solo de Steven Wilson acabou sendo adiado para janeiro e, desde já, é um dos candidatos a figurar nas listas de fim de ano. O ex-guitarrista da finada (?) Porcupine Tree colocou no mundo um álbum guiado pelas batidas eletrônicas e pelo synth-pop, mas engana-se quem espera algo muito feliz de tudo isso. THE FUTURE BITES é uma visão pós-apocalíptica e distópica de uma sociedade materialista e, ao longo de suas nove faixas, nos guia para uma reflexão acerca de tudo o que está acontecendo ao nosso redor. Tire quarenta minutos do seu tempo e ouça! [JP]
Fuck Art, do The Dirty Nil
O pop-punk está vivo e fazendo barulho. Lá no primeiro dia do ano, o The Dirty Nil resolveu entregar um trabalho que se encaixa perfeitamente no estilo, mas que consegue alternar momentos que vão do heavy metal ao pop sem nenhuma vergonha. Inclusive, Fuck Art é um álbum divertido, de letras simples e sem qualquer pretensão e que está longe de querer mudar o mundo. O objetivo aqui é apenas te fazer balançar a cabeça com sons de guitarra, algo que um bom pop-punk que se preza deseja fazer. [JP]
Welfare Jazz, do Viagra Boys
Após uma estreia bem sucedida com o Street Worms (2018), os suecos do Viagra Boys estão de volta com o refinado Welfare Jazz. Mais um ótimo nome do post-punk, a banda formada em 2015 parece ainda mais apta ao experimentalismo. Ao longo das treze faixas, temos muito da sonoridade já conhecida aliada a outros elementos que tornam o disco maluco e igualmente interessante. As dançantes “Creatures” e “Girls & Boys”, o baixo marcante de “Ain’t Nice” e a jazzística “I Feel Alive” são bons destaques e valem a audição. [JP]
Ok Human, do Weezer
Pegue Pet Sounds, disco de 1966 dos Beach Boys, atualize suas letras para falar sobre questões modernas, como isolamento social, repetição de rotina, K-POP e audiobooks e você terá Ok Human. Gravado com a participação de uma orquestra, o décimo quarto disco do Weezer tem seus momentos fracos, como as extremamente lentas “Mirror Image” e “Dead Roses” mas, ao deixar de lado as guitarras elétricas que dominam os singles mais conhecidos da banda para priorizar pianos, violinos e violoncelos, ele se torna um divertido e agradável tributo ao pop barroco da década de 60. Talvez um dos grandes (e únicos) problemas desse disco seja sua duração: as músicas são curtas, totalizando 30 minutos que fazem com que o ouvinte termine o disco com a sensação de “quero mais”. Destaque para “Screens”, uma crítica à obsessão da sociedade com tecnologia que possui o refrão mais pop do disco, e para a reflexão sobre mortalidade promovida em “La Brea Tar Pits”. [GC]
SUCKAPUNCH, do You Me At Six
O You Me At Six segue sobrevivendo ao tempo. Em seu sétimo trabalho de estúdio, a banda inglesa entrega, essencialmente, um álbum rock. No entanto, o quinteto se permita brincar com outros estilos musicais ao longo de suas onze faixas. Aqui, a banda se joga nos elementos de hip hop e eletrônicos sem medo e o resultado tem seus momentos interessantes. Enquanto “MAKEMEFEELALIVE” me parece saída de uma sessão com o Prodigy, a faixa que dá nome ao trabalho poderia ser um remix assinado por algum DJ famoso. Apesar disso, a essência do You Me At Six segue intacta e, provavelmente, esse é ponto alto do álbum. [JP]
Quer mais dicas além dos álbuns lançados em janeiro?
Fique ligado aqui no Audiograma para acompanhar as seleções dos próximos meses de 2021, cuja programação você encontra em nossa lista com os principais lançamentos previstos no mundo da música.
Por fim, não deixe também de dar uma olhadinha em nossa seleção com os 100 melhores álbuns do ano passado.
Textos: Gabrielle Caroline, John Pereira, Rahif Souza e Yuri Carvalho.