Quando o Phil Collins pisou no Brasil pela primeira vez, eu nem era nascido. Isso foi lá em 1977 e aposto que você também não estava por aqui.
Peter Gabriel havia deixado o Genesis anos antes e Collins trocou as baquetas pelo microfone numa época em que não era nada comum receber artistas gringos no país. Ainda mais um projeto grande de rock progressivo, como era o caso.
Mas como eu disse, eu não era nascido e provavelmente estava bem longe sequer de habitar o saco do meu pai – o que só aconteceria em 1985, quando Collins lançou seu 3º disco solo, No Jacket Required, com “Sussudio” e outros clássicos, e recebeu um Grammy por “Against All Odds (Take a Look at me Now)”.
Após o fim do Genesis, o ex-baterista investiu em parcerias – Led Zeppelin e depois Robert Plant, e até Eric Clapton – ao mesmo tempo que começava a mostrar seu talento num trabalho solo que encantou milhares de pessoas ao redor do mundo.
Confesso que tive um reencontro com Collins somente em 1999. Tenho certeza que muitos aqui também compartilham dessa experiência. Mesmo já conhecendo várias de suas canções, foi com “You’ll Be In My Heart”, trilha sonora da animação Tarzan, que me apaixonei.
Ignorem o clipe velho e datado com efeito especial tosco, por favor. A MTV era jovem. Nós também.
De lá pra cá, muita coisa foi acontecendo e Phil Collins era um artista respeitado que eu preferia ouvir sozinho em casa sem ninguém saber. Ou nas raras ocasiões em que fiquei bêbado num karaoke. Ou quando levava um pé na bunda – o que acontece com frequência. Besteira, né? Que atire a primeira pedra quem não é jovem e gosta de ouvir som de tiozão. Um puta tiozão com gosto requintado e sofisticado, que todo mundo acha que é gay e passou dos trinta e não se casou, mas um bom tiozão.
Ouvi “Against All Odds” e “Another Day in Paradise” várias vezes pelas razões ~erradas~, sabe? Como se fossem companhias perfeitas para a tristeza e lamentação de ver relacionamentos escapando pelos dedos das minhas mãos.
Não é que os versos do refrão sejam inadequados para uma dor de cotovelo – e não é o caso mesmo: eles são perfeitos. Aliás, nas últimas semanas mesmo, ela veio muito a calhar para dar uma força num momento ruim e que boas músicas são importantes para acalmar o coração, a alma e as lágrimas.
Mas isso é papo de canceriano que levou pé na bunda de quem ele queria dar um anel. Phil Collins é apenas meu amigo nas horas que o Bruce Springsteen ou o Chris Martin pedem um descanso na minha playlist do Spotify.
Quando aponto as “razões erradas” é apenas porque nunca me liguei no quanto Phil Collins é realmente um daqueles nomes geniais do mundo da música. Nunca imaginei que poderia descobrir isso ao vivo, ainda mais depois daquela aposentadoria em 2011. Que loucura! Mais louco ainda foi imaginar que o Brasil ficaria sem uma apresentação histórica do sujeito.
No entanto, a vida de um apaixonado por música costuma oferecer surpresas incríveis e o ano de 2018 realmente começará apenas após o carnaval, que é bem próximo do primeiro dos quatro shows que o careca vai fazer no Brasil. Começando pelo Rio de Janeiro e passando por São Paulo (duas datas) e Porto Alegre, Phil Collins finalmente vem compensar seus fãs.
Para muitos será a realização de um sonho. Para mim será uma daquelas experiências que somente quem sabe amar arte conseguirá entender. Por isso, quando eu olhar para o lado, não serei julgado pelo Maracanã inteiro virar um autêntico karaoke copo sujo com um bando de tiozão e tiozonas chorando cada verso de “Take a Look At Me Now”.
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Mal posso esperar para fechar os meus olhos e apenas ouvir cada nota vinda do palco de um dos shows mais aguardados do ano. Vou conhecer o melhor cantor da minha música dor de cotovelo favorita para cantar no Karaoke – e a garota não estará lá para ouvir.
Sorte dela.
Quer dizer… ela não vai ver Phil Collins. Acho que o sortudo sou eu, afinal.