A edição 2016 do Popload Festival era especial por vários motivos. Seja por chegar a sua quarta edição, comemorar os dez anos de vida do Popload ou pelas chances dadas ao público brasileiro de se ver nomes como Wilco ou The Libertines, o evento contava com diferentes propósitos para cada um dos presentes ao Urban Stage naquele dia 08 de outubro.
Criado em 2013, o evento já reuniu na capital paulista nomes como The XX e Yuck em sua primeira edição; Tame Impala e Cat Power em 2014 e, no último ano, teve a sua grande edição com Iggy Pop, Belle & Sebastian e Spoon. Para 2016, além dos já citados, o festival colocou no mesmo palco o Ratatat, a Ava Rocha e o Bixiga 70, que entrou no lugar do anteriormente escalado Battles.
Foi a minha primeira experiência no Urban Stage e, se o lugar ganhou todos os pontos possíveis com a sua facilidade de chegada (e também pelo bilhete de volta garantido pela Heineken), confesso que a minha expectativa com o espaço era maior do que aquilo que acabei encontrando por lá. Ainda que não tenha me atrapalhado, senti falta de uma maior sinalização, sobretudo dos acessos para a pista comum para quem estava na Pista Premium. Cheguei no evento por volta das 18:30 e só fui descobrir como chegar na pista (e, por consequência, no espaço de convivência do Spotify) após o show do Wilco. Fora isso, me parece um bom local para shows e que pode ser mais explorado, principalmente porque cabem 8 mil pessoas. Para quem mora em Belo Horizonte (ou perto dela, como no meu caso) e não tem um lugar de média capacidade como esse disponível, a experiência acabou sendo bem positiva.
Por chegar tarde no evento, acabei não vendo os shows do Bixiga 70 e da Ava Rocha. Conheço pouco do trabalho da Ava, mas a minha vontade de ver um show do Bixiga era grande e espero conseguir satisfazer isso em breve. Com isso, a noite me reservava os três shows internacionais, começando pelo Ratatat. Era a primeira vez do duo formado por Mike Stroud e Evan Mast no Brasil e, apesar de todas as qualidades que o duo possui e de terem se tornado queridinhos de vários críticos e blogs musicais nos anos 2000, não foi um show que funcionou dentro do Popload. Poucos foram os momentos que atraíram o público ao longo de uma apresentação que funcionaria muito mais em uma casa como o Cine Joia do que no festival, por exemplo.

Coube ao Wilco criar uma atmosfera interessante no Urban Stage e a banda liderada por Jeff Tweedy não fez feio. E nem conseguiria, mesmo se quisesse. Em sua primeira turnê real pelo Brasil (a banda veio em 2005 para um show no Rio), o Wilco já entrou em campo com o jogo ganho e a taça na mão. Ainda assim, fez o jogo das faixas de forma brilhante, como não podia deixar de ser.
Mesclando músicas de seu recente álbum, Schmilco, com faixas icônicas como “Via Chicago”, “Impossible Germany” e “Hummingbird”, a banda passeou de forma elogiável pelos álbuns de sua carreira, com destaque para o Being There (1996) que teve cinco músicas no show, entre elas a sempre interessante “Misunderstood” – que ganha uma força ainda mais forte ao vivo. No entanto, o coração deste que vos fala bateu forte em “Heavy Metal Drummer”, “I Am Trying to Break Your Heart”, “I’m the Man Who Loves You” e “Jesus, Etc.”, ambas do aclamado Yankee Hotel Foxtrot (2000), além da já citada “Impossible Germany” que arrancou algumas lágrimas sinceras de quem estava vendo a banda pela primeira vez.
Com o jogo ganho seria fácil se acomodar, mas acho que essa palavra nunca passou pela cabeça do Wilco ao longo de sua carreira e, ao longo das duas horas de show, o tempo passou sem se perceber. Quando dei por mim, a banda estava voltado ao palco para o bis com “Spiders (Kidsmoke)” e “The Late Greats”, para fechar aquele que foi um dos shows mais marcantes da minha vida, por toda a carga emocional envolvida.

Depois de tudo aquilo, ainda tinha o The Libertines, mas antes precisa me reabastecer com umas copos de cerveja. Por cada copo de um chopp, que considerei pequeno, paguei R$10 e até poderia reclamar por isso, mas a Heineken deu bilhete de volta do metrô. Dessa vez, vou perdoar. Até porque, tem horas que é bom ficar feliz por estar bebendo Heineken e não outra coisa, né? Enquanto pegava e bebia a cerveja, muitos eram aqueles que davam a noite por encerrada antes de Carl Barât e Pete Doherty subirem ao palco e dividirem microfones como os melhores amigos que – ao que parece – voltaram a ser.
Ver o The Libertines foi uma mistura de sentimentos e talvez eu apanhe na rua por dizer isso, mas o quarteto que também tem John Hasall e Gary Powell sempre teve uma importância maior que o The Strokes pra mim e, muito por isso, aquele momento no Urban Stage pode ser considerado como a realização de um sonho que carregava comigo desde os 16 anos, que era o de ver a banda em sua formação original. Isso aconteceu doze anos depois de colocá-la entre as minhas bandas favoritas do tal mundo indie e, ainda que algumas músicas especiais tenham ficado de fora – já que era a turnê do álbum Anthems For Doomed Youth e não os shows de reunião que rodaram a Europa entre 2014/2015 – do setlist em São Paulo, ter ouvido coisas como “Boys in the Band”, “What Katie Did”, “The Boy Looked at Johnny”, “Can’t Stand Me Now”, “Vertigo”, “Time for Heroes”, “Music When the Lights Go Out”, “Horrorshow” e “Up the Bracket” fizeram aquele adolescente ficar extremamente feliz ao longo de um show que oscila mas ainda entrega bons momentos, como a chance de ver que músicas como “Barbarians” e “Gunga Din” funcionam ao vivo, por exemplo.

Nos acordes finais de “Don’t Look Back Into the Sun”, fui me dirigindo rumo a saída para encarar a volta para a casa com a sensação de que risquei da melhor forma possível duas bandas importantes para mim, cada uma representando um período da minha vida. E ainda ganhei uma garrafinha de água que, depois, descobri que tava sendo vendida nos bares por R$6. É nessas horas que eu fico feliz por não beber tanta água como deveria ou não me arriscar a comer sanduíches que custavam, em média, R$15.
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Foto destaque: Fabrício Vianna