Inspirado pela história linda apresentada na coluna anterior, acho que é um bom momento para ser mais intenso e pessoal, e soltar um texto sobre uma daquelas grandes frustrações românticas que conhecemos durante a vida. A Renata faz parte de uma dessas histórias.
Usarei um nome fictício e deixo registrado que só estou nomeando porque existem várias canções que me fazem lembrar dela e cada uma representa algo diferente, único e especial. Outras representam coisas horríveis, daquelas que você costumava se revirar ao avesso para esquecer ou fingir que nunca foram reais. Bem, foram reais. Já não incomoda mais e pelo menos desse relacionamento consigo falar sem querer vomitar depois.
Ou seja: Renata será uma personagem “recorrente” na coluna. Ao contrário de outras pessoas que dificilmente serão lembradas aqui, (acho que) ela não me odeia o suficiente para querer me processar, jogar meu nome na boca do sapo, fazer macumba para eu ficar broxa ou careca, contratar alguém para me matar etc.
A Regina Spektor foi uma das atrações principais daquele lineup maravilhoso do SWU de 2010. Renata a amava. Eu apenas ouvia sem qualquer restrição. Era bonitinho acompanhar as músicas dessa ruiva apadrinhada pelo Strokes no começo da carreira. Acabou sendo um motivo forte para Renata querer me acompanhar no Festival. Parecia promissor: ela choraria emocionada e me beijaria apaixonada no show da Regina Spektor; ficaria excitada no modo turbo ouvindo “Sex on Fire”, no show do Kings of Leon; e depois buscaria minha proteção no mar de gente suada pulando no Rage Against the Machine.
Fui surpreendido com a qualidade da moça e de suas canções. Ela não fez o melhor show da noite, mas certamente agradou o suficiente para garantir novos fãs. Além de me render bons beijos.
Mas até então, eu não havia realmente parado para prestar atenção em seu trabalho até o dia em que ouvi o famoso “essa música me lembra você”, um bom tempo depois do show. A música em questão era “Samson”.
“Your hair was long when we first met” era uma lembrança mais óbvia, mas Renata não se contentaria apenas com um detalhe. Comecei então a tentar decifrar os motivos para “Samson” ter virado uma canção sinônimo do nosso relacionamento.
“You are my sweetest downfall / i loved you first” podia ser algo como ela ter coragem (ou capacidade) de notar que ela estava lidando com um iceberg e não tinha a menor ideia de como descobrir um jeito de conhecer além do que estava na superfície, por mais que gostasse de mim e suportasse passar por situações pesadas. É como se fosse um recado para eu nunca me permitir esquecer de quando a tinha por perto.
“And the history books forgot about us / and the bible didn’t mention us”, gosto de pensar que essa parte envolve um toque genial dela para falar do fim de um relacionamento. Não importa para mais ninguém, exceto para nós mesmos – os envolvidos.
Também acho que ela citou essa música como uma alusão ao fato do Samson aparecer uma criança tarada, como eu: “Samson came to my bed / Told me that my hair was red / told me i was beautiful and came into my bed” e “and kissed me till the morning light”. O jogo de palavras pode não significar nada, mas também pode dar a entender que se trata de uma maneira sutil de relatar uma transa apaixonada durante a madrugada.
“Samson” me faz pensar naqueles dias. Em como eu era um completo idiota e amadureci preservando apenas metade dessa idiotice. Renata não faz mais parte da minha vida e gosto de pensar que ela está num lugar bem melhor e finalmente se encontrou como pessoa, além de realmente ter deixado coisas boas para serem lembradas. E isso é algo valioso para se dizer.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=p62rfWxs6a8[/youtube]
*“Samson” está originalmente no disco Songs, de 2002. Foi regravado para Begin to Hope, de 2006.