O Lollapalooza sempre foi um festival especial para mim e ter acompanhado in-loco (e pela primeira vez) a edição de 2014 me deixou ainda mais apaixonado por tudo que alí acontece. Mais do que qualquer show, acorde ou atração, a experiência que um festival lhe oferece pode ser marcante e, quem sabe, parte integrante da sua vida.
Desde 2013, tenho encarado muitas idas e vindas atrás de bandas ou artistas que eu quero ver ao vivo antes de morrer. Foi assim com Stevie Wonder, Kings Of Leon, Arctic Monkeys, Iron Maiden, John Mayer, Bon Jovi, The Hives e, mais recentemente, o City and Colour. Desenvolvi essa cultura de viajar para ver shows e, embora me falte dinheiro para outras coisas e que outros projetos pessoas estejam engavetados, me sinto feliz por fazer isso, ainda que “tardiamente”. Só que o Lolla é diferente. O Lolla até tinha boas atrações mas, caso não tivesse comprado antes, o lineup deste ano realmente me faria pensar muito antes de pegar a mochila, jogar algumas roupas e partir para São Paulo. No fim, como um bom apaixonado que perdoa o seu amor, acredito que acabaria indo (como foi em 2014) e não me arrependeria.
Atualmente, vemos brotar por aí um certo rancor de festivais, sobretudo por aqueles que acreditam na conversa de “perda de qualidade” naquilo que se propõe a ser o foco principal de eventos do tipo: Ver um show. Ok, você certamente não terá a mesma experiência que teria caso estivesse vendo o show da atração X em uma casa fechada. São vários os fatores que influem nessa experiência e, em cada uma delas, existem os ganhos e também as suas perdas. Festival é uma oportunidade para se conhecer bandas, explorar experiências e, até mesmo, matar a vontade de ver muitas coisas que gostaria de ver em uma oportunidade apenas.
Neste ano, consegui ver 13 shows no Lollapalooza, sendo 11 deles completos. Por alto, é como se eu tivesse gasto cerca de R$ 26 por cada apresentação que vi (paguei meia-entrada, vale ressaltar) e, ainda que o custo total da brincadeira seja alto (saí de BH, paguei por viagem, hotel e a questão alimentar dentro do festival pesou bastante), acaba que todo o processo vale a pena.
EXPERIÊNCIA:
Como é bom ir em festivais. Como é bom ter amigos com quem ir em festivais. Mais do que os ótimos shows de Jack White, Kasabian e Molotov, mais do que a alegria por ver o The Kooks ao vivo, mais do que a satisfação de ver uma banda como o Far From Alaska impondo respeito ou das boas surpresas chamadas Kongos e Young The Giant (e desculpa se você não gostou), o que mais marcou o Lolla foi ter com quem dividir toda a experiência.
Eu estava alí pelos amigos e pelos shows. O festival ofereceu montanha russa, espaço com decoração legal, ativações para dar um tapa no visual, um mercadinho para você comprar desde produtos oficiais até a roupas para mudar o seu “lokadodia” ou o chef gourmet-stage com bacalhau com nata custando alguns bons mangos que valem mais do que dinheiro, conforme diria Silvio Santos. Apesar dos relatos extremamente positivos de todos os amigos que passaram pelos espaços, sabe quais das ativações eu visitei? Isso mesmo, nenhuma. E por mais que ache tudo isso muito legal e torça para que em 2016 tenha ainda mais opções “plus” para o divertimento do público, eu não senti falta delas. Ao contrário de 2014.
ESTRUTURA:
Com o tempo, você começa a se acostumar com o Autódromo. O mapa do festival é bem explicativo, os elementos/ativações te ajudam a se localizar no espaço e, ao contrário de 2014, o espaço foi melhor utilizado. Ainda que apresente falhas que podem ser melhor estruturadas para 2016, senti uma tentativa de acerto da T4F que é até louvável. Seria cômodo deixar tudo como foi no ano anterior, mas a produtora se esforçou em melhorar e isso já merece os parabéns.
Uma das mudanças foi a tirada de alguns guard-rails entre o palco Skol e o Onix. A inclusão dos food-trucks também foi uma atitude acertada, ampliando a quantidade de opções para se alimentar no festival. Ainda que continuem insuficientes, a quantidade de lixeiras também aumentou, assim como os pontos de venda dos agora chamados #LollaMangos. O mesmo não se pode dizer dos banheiros, que foram mal distribuídos em relação aos palcos. Em certos momentos, ir aos banheiros próximos aos palcos era impossível, segundo relatos. O vazamento de esgoto próximo ao Chef Stage também não era algo muito agradável de se curtir em um festival.
O acesso ao festival foi mais tranquilo, mas a inversão feita no caminho entre a Estação Autódromo e a entrada decepcionou. Pode facilitar a organização do fluxo das pessoas e ao trabalho da CET (é esse o nome?), mas quem deseja entrar rapidamente no autódromo acaba perdendo tempo. No segundo dia (com mais pessoas indo ao festival), levei muito menos tempo para entrar, pois optei por utilizar o acesso usado em 2014, que pode ser mais cansativa, mas é mais rápida.
Sobre os tais Mangos. Ok, legal, facilita o processo, evita filas e tudo mais. No entanto, foi uma boa forma de mascarar os preços altos dos produtos dentro do festival. Os mangos custaram menos que a moeda utilizada em 2014. Cada mango valia 2,50 neste ano ao invés dos antigos 3 reais, cobrados no ano passado. No entanto, os produtos oferecidos sofreram aumentos e esse mango “mais barato” não surtiu efeito. Complicado demais você pagar R$ 20 (ou 8 mangos) por um chopp da patrocinadora e um pastel, não é? Eu teria consumido muito mais se os preços fossem, pelo menos, razoáveis. Você vai para um festival já pensando nesse tipo de gasto, mas ele poderia ser pelo menos bem gasto. Para alguns deve ter sido, para mim não. Serviu para matar a fome ou a sede, mas queria ter dado um destino melhor aos quase 40 mangos (R$ 100) que gastei no festival.
Parece romantismo (e talvez seja), mas o Lolla realmente tem um espaço especial na minha vida. Sabe aquele amor que você nutre e, mesmo que aconteçam várias merdas, ele acaba superando? Então, essa é a minha relação com o festival. A cerveja era (muito) ruim, o som dos palcos Skol e Axe deixaram a desejar em alguns shows, o Lounge as vezes tinha o som absurdamente alto e atrapalhava, alguns dos ambulantes se negavam a vender as coisas em troca dos tais Mangos (e alguns superfaturando os preços), valores altos para determinados produtos (5 reais um copinho de água é para deixar qualquer um desidratado) e os repetidos (e ainda falhos) fogos de artifício no fim dos últimos shows são só algumas das coisas que fariam qualquer um desistir desse amor e partir para outra. Mesmo assim, não é o caso.
SHOWS:
O grande barato do Lolla pra mim estava nos amigos e na música. Ainda que a Banda do Mar tenha sido burocrática ao vivo, o primeiro dia de festival começou ao som do trio luso-brasileiro no Palco Skol tocando suas músicas e das carreiras paralelas de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães. No fim, bateu um leve arrependimento por não ter visto a banda em um show realizado no fim de semana anterior, em BH. Vida que segue.
Enquanto alguns amigos foram encarar o Fitz and The Tantrums, foi explorar o espaço e esperar o show do Alt-J. Tudo que eu queria era ter um turbante na cabeça para este show. Apesar da falta do traje, este era um dos shows que eu tinha mais curiosidade de ver e, no fim das contas, valeu a pena. Como foi bom ouvir “Breezeblocks” ao vivo, vocês não fazem ideia.
[youtube]https://youtu.be/-cAA_XRSIdQ[/youtube]
Ao fim do show, era hora de me dirigir ao Onix em busca do Kasabian. Vi muitas pessoas com pesar pois, no mesmo horário, a St. Vincent estava no palco Axe mas, como a vi em BH, a escolha já estava sacramentada desde antes do festival começar. Pouco depois das 17 horas, a banda capitaneada pelo guitarrista Sergio Pizzorno e pelo vocalista Tom Meighan subiram ao palco mesclando sucessos da carreira com faixas de seu mais recente (e belo) álbum, 48:13. Se você atrás da torre de som e viu alguns malucos pulando de forma alucinada durante músicas como “Shoot the Runner”, “Days Are Forgotten”, “Vlad the Impaler” ou no cover de “Praise You”, do Fatboy Slim, saiba que eu era um deles. Preciso dizer como o show foi bom?
Após o Kasabian, era hora de Robert Plant. Dois dias antes, o show em BH tinha sido simplesmente mágico e a expectativa era de que aquele clima se repetisse no Lolla. Bom, só faltou combinar com o Palco Skol e o seu som que resolveu deixar a desejar em muitos momentos, pelo menos no local aonde estava. Valeu a pena, claro, afinal estamos falando de Roberto Planta e toda a representatividade que ele tem para o mundo musical mas, ao fim do show, eu me senti muito aliviado por ter visto a apresentação de BH, se é que você me entende.
Com o fim do show do Planta, era o momento em que eu seguiria rumo ao Axe para a ver a Marina and The Diamonds. No entanto, ela não veio e nos deixou a ver diamantes de tristeza pelo show cancelado em cima da hora. Como não dava para ficar parado, quem não tem Marina ataca de Skrillex… bom, esse foi o pensamento de boa parte dos amigos que seguiram para o Onix. Eu, como não sou o maior fã do movimento, fui ao Axe ver o Kongos, que se apresentaria a tarde e acabou sendo deslocado para preencher o horário. Posso dizer que a banda sul-africana foi a grata surpresa da noite e ouvir “Come With Me Now” aquela altura (já com os danos físicos começando a aparecer) foi uma experiência bem interessante.
Tudo o que aconteceu no sábado apenas me preparava para aquele que seria o melhor momento do festival. De volta ao Skol, era hora de ver o homem, a lenda, o mito, Jack White. A cor azul tomou conta do palco enquanto Jack e sua banda começaram os trabalhos ao som de “Icky Thump”, do The White Stripes. A prioridade eram os discos solo (algo natural, né?) e lá estavam “Lazaretto”, “Temporary Ground”, “Just One Drink” e “That Black Bat Licorice” para me deixar feliz. O trabalho com o White Stripes e o The Raconteurs também foi lembrado com “Hotel Yorba”, “Ball and Biscuit” e “Seven Nation Army”, além de “Steady, As She Goes” e “Top Yourself”, pontos altos da noite para mim. De longe, o melhor show do festival.
[youtube]https://youtu.be/v6Na_QryotU[/youtube]
O domingo começou com o Far From Alaska e, se 2014 foi um ano especial para Emmily Barreto, Cris Botarelli, Rafael Brasil, Edu Filgueira e Lauro Kirsch, o Lollapalooza serviria como uma espécie de consagração. E assim foi. Ouvir faixas como “Deadmen” e “Dino vs Dino” ao vivo, ver uma galera cantando junto e muitos “boquiabertos” com a qualidade da banda ao vivo explicam um pouco da felicidade sentida ao ver esse pessoal que eu nem conheço mas considero pacas no palco.
O segundo dia não poderia ter começado melhor mas, provavelmente, algum Deus mexicano deve ter me ouvido pronunciar essas palavras antes de me dirigir ao palco Skol para ver o Molotov e, internamente, soltou um “você não sabe o que lhe espera, pequeno gafanhoto”. Enquanto a banda tocava “Oleré y oleré y oleré el UHU”, uma das músicas do mais recente álbum que eu mais queria ouvir, me dirigia ao palco e, após conseguir uma localização estratégica bem próximo a ele, deu-se início a uma sequência de eventos que transformaram o show dos mexicanos na coisa mais insana e divertida pela qual já passei em um festival. Não temos registros (pelo menos não encontramos), mas o que aconteceu enquanto ouvíamos “Chinga tu madre”, “Amateur (Rock Me Amadeus)”, “Changüich a la chichona”, “Gimme tha Power”, “Dance and Dense Denso” e “Puto” foi algo simplesmente surreal. SURREAL! E olha que faltou “Frijolero”, hein?
Após tudo aquilo, era preciso descanso. Enquanto alguns foram para o Rudimental, eu resolvi ficar quieto no meu canto e esperar pelo Interpol. O show foi bom? Sim. Fiquei feliz por ter ouvido “Evil”, “Narc”, “Everything Is Wrong”, “NYC” e “All the Rage Back Home”? Claro. O show bateu como deveria? Não. E, antes que você fã da banda venha brigar comigo, a culpa não foi de Paul Banks e companhia. Mais uma vez, o som do palco influenciou negativamente e, para quem estava mais afastado do palco, o show acabou não funcionando tanto. Com a chuva caindo, quem estava mais distante acabou esfriando ainda mais a apresentação que foi boa, mas não tão boa o quando poderia.
Nas últimas semanas, percebi que o The Kooks desperta uma relação de amor e ódio nas pessoas. Tem quem ame e tem quem odeie com todas as forças. Como faço parte do primeiro time, lá fui eu me despedir do palco Onix ao som da banda britânica. Sabe quando tudo conspira a favor, mas acaba jogando contra? O show foi isso. Palco com boa qualidade de som, banda afiada, hits tocados, público participativo… e ainda assim faltou algo. Ainda que ouvir “Around Town”, “It Was London”, “Bad Habit”, “Down”, “Seaside”, “Forgive & Forget”, a linda “See Me Now” e “Naïve” ao vivo tenha sido extremamente agradável, talvez o “piloto automático” de Luke Pritchard e companhia tenham influenciado bastante no resultado final e, fora uma ação ou outra, o que se viu foi uma boa banda, com boas músicas, que tocou bem mas não jogou junto. E isso faz a diferença.
Entre Foster The People, Pitty e o The Chainsmokers, acabei optando por mais um show da banda californiana, que tinha visto dias antes em Belo Horizonte. Se em Minas funcionou, no Lolla não deu liga. Se em Minas o público foi participativo, no Lolla boa parte dele acabou se distraindo enquanto o show rolava. De onde eu estava, apenas “Pumped Up Kicks” funcionou de forma uniforme e ela foi a penúltima das catorze faixas tocadas.
No entanto, vários foram os relatos de adoração e elogios ao show de quem estava mais próximo ao palco. Das duas uma: Ou eu estava vendo outra coisa… ou eu fui um dos vários que se distraiu. A certeza é: Eu deveria ter ido ao Palco Perry para dançar a música da Selfie com o The Chainsmokers ou ao Axe cantar “Me Adora” com a Pitty.
Falando em Axe, foi pra lá que fui pouco antes do fim do show do Foster The People. Enquanto 70% do público (segundo estatísticas do datafoda-se) foi ao Onix ver o Calvin Harris, eu optei pelo Young The Giant. Nada contra o Harris, vamos deixar isso claro, apenas uma opção que me agradava mais no momento. Comandada por Sameer Gadhia, a banda entregou um excelente show para um pequeno público, que cantou junto em faixas como “Slow Dive”, “Paralysis” e “Camera”. Contudo, os bons destaques do show ficam por conta de “Cough Syrup” e a faixa que fechou a apresentação, “My Body”. De longe, foi a boa surpresa do segundo dia de festival.
[youtube]https://youtu.be/xmGEie6D_so[/youtube]
Finalizado o show, era hora de ir em busca da felicidade. Para fechar o Lollapalooza Brasil, lá fui atrás de Pharrell Williams e sua chiclete “Happy”. Com um pequeno atraso, o produtor subiu ao palco para apresentar um verdadeiro desfile de hits, entre faixas de sua carreira solo, participações como cantor/produtor em outras canções e músicas de seu antigo projeto, o N*E*R*D.
Com vários problemas de som e um aparente playback em algumas das faixas, Pharrell começou o show com músicas de sua carreira solo. Lá estavam “Come Get It Bae”, “Hunter”, “Marilyn Monroe” e “Brand New”, músicas do álbum mais recente do produtor, G I R L. A partir de “Rock Star” (N*E*R*D), o que se viu foi uma uma sequência invejável de hits como “Beautiful”, “Drop It Like It’s Hot”, “Hollaback Girl”, “Blurred Lines”, “Get Lucky” e “Lose Yourself to Dance”.
Desde antes do jogo começar, era sabido que Pharrell seria capaz de entreter quem ficasse no palco Skol e isso já era evidente antes do final, com “Gust of Wind” e a celebração final de tudo o que foi o festival, “Happy”, com direito a fogos que agradaram a todos… menos ao Billy (Willian) Corgan e os fãs do Pumpkins que estavam no palco Axe.
[youtube]https://youtu.be/yXss_46OmhE[/youtube]
Depois de ver Banda do Mar, Alt-J, Kasabian, Robert Plant, Kongos, Jack White, Far From Alaska, Molotov, Interpol, The Kooks, Foster The People, Young The Giant e Pharrell, sempre me deslocando entre um palco e outro, ficam as dores, o cansaço ainda evidente, a gripe que veio de SP comigo e, principalmente, a vontade de repetir tudo isso de novo na companhia dos amigos ano que vem.
Em setembro tem o Rock In Rio, em novembro tem o Pearl Jam e outras coisas devem surgir no caminho nos próximos meses, mas desde já deixo iniciada a contagem regressiva para o Lolla 2016: Que venha, pois eu vou!
Fotos: I Hate Flash