Fazer parte de um festival me agrada desde os tempos do finado e saudoso Pop Rock Brasil, que aconteceu por muito tempo aqui pros lados montanhosos das gerais.
Um dos motivos que me fazem querer ir a mais e mais eventos do tipo é, além das atrações e tudo o que atrai as pessoas de uma forma geral, a total sensação de imprevisibilidade que você enfrenta. Você acaba imerso em um mundo paralelo aonde, por mais que queira, não tem muito controle do que acontece, principalmente quando você vai com a intenção de explorar ao máximo o espaço, ver a maioria dos shows, conferir de perto os “plus” que se tem a disposição ou, até mesmo, observar as pessoas que por lá estão.
Foi com esse espírito de “seja o que Deus quiser” que encarei a terceira edição do Lollapalooza Brasil, em Interlagos, e já digo a vocês: não me arrependi.
ESTRUTURA
A caminho de São Paulo, planejei detalhadamente tudo o que faria, os shows que gostaria de ver, o tempo que usaria para explorar outros espaços e tudo mais. Por um momento, achei que daria certo e eu conseguiria mas, fazendo o trajeto entre a estação autódromo e a entrada do evento (que levou mais tempo que o previsto pela organização), eu percebi que o melhor a fazer seria DELETAR esse plano bem arquitetado da memória.
Depois de uma entrada tranquila, o Lolla já me presenteou de cara com um copo de Skol por 9 reais. Quem me conhece sabe que, em condições normais, não pagaria nem 1 real nessa cerveja, mas… quem tá na chuva (que graças a Deus não deu as caras) é pra se molhar, então tive que encarar. Aliás, falar disso me lembra do processo de compra/venda de fichas e produtos que, apesar de estranhar no início, achei extremamente positiva a ideia de padronizar os preços em multiplos de 3. Não sei se já era comum ou se era novidade (era o meu primeiro Lolla) e isso reduz a quantidade de fichas nos bolsos, além de facilitar o atendimento nos caixas e bares, que acaba sendo mais rápido. Foi algo que não tive problema nos dois dias de festival. Como comparação, me lembro de festival que eu morri com fichas de 1 real na carteira. Dessa vez não sobrou nada.
É bom dizer que a T4F fez um bom trabalho na estrutura do Lollapalooza. Apostou no lugar que muitos torceram o nariz no começo, encarou alguns problemas no primeiro dia e soube resolvê-los no segundo. Mesmo tendo que andar quase 1KM se você quisesse sair do Palco Interlagos e ir ao Palco Onix e, por conta disso, tendo que encarar alguns gargalos durante o trajeto, foi tranquilo transitar pelo evento. Ok, estou com um dos joelhos doendo até hoje e exercitei bastante a minha paciência, mas são ossos do ofício.
Pra mim, a grande sacada foi realmente o ganho de espaço e, com isso, oferecer várias ações ou, simplesmente, dar ao público um show sem a influencia de som vinda do palco ao lado. Quem viu o Jake Bugg provavelmente não sofreu com som vindo do show do Soundgarden ou quem viu o New Order não ouviu a catarse coletiva durante o Arcade Fire. Cada um na sua, apesar dos mesmos horários, como manda a cartilha do bom festival.
Eu até daria nota 10, mas não encarei todos os espaços e não achei legal ter que brincar de “onde está wally?” com as lixeiras do festival (e se alguém encontrou, me avisa por favor).
SHOWS
Tem que falar dos shows, né? Ok, começo pelo sábado e pelos shows bem legais do Capital Cities e do Café Tacvba. Nos dois casos, só fui dar a devida atenção aos discos um pouco antes do Lolla e, se já tinha gostado em casa, os shows serviram para confirmar o que pensava. O Capital Cities ainda fez cover de Bee Gees e Madonna.
Depois de andar pelo espaço e ganhar uma pulseira de presente de uma curitibana de nome Adriana, voltei ao Interlagos para ver um pouco do Portugal. The Man e da Lorde. Apesar se não ter ouvido “Royals” (porque fui ver o Nine Inch Nails e ela não tinha tocado ainda), deu pra perceber que a neozelandesa sabe o que faz no palco e tem domínio daquele espaço. Que ela volte logo para shows solo e me confirme tudo isso (ou não). Antes de voltar ao Onix, uma moça de Campinas apareceu na minha frente e quase me fez trocar o Nine Inch Nails pelo Nação Zumbi. Quase. Não sei dizer qual foi o poder de sedução mas, olha, por pouco trocava o Trent Reznor pela Marta. Por pouco.
Precisei lembrar que o Nine Inch Nails era o que eu mais queria ver no primeiro dia de Lolla para caminhar em direção ao Onix e ver a trupe de Trent Reznor colocar a casa abaixo. Show lindo de se ver, empolgante em muitos momentos e quase arrancou lágrimas de felicidade em “Find My Way”. Era tanta coisa que queria ouvir que a banda poderia tocar por mais uma hora mas, como não dava, valeu demais pela experiencia. Ao final, tenho certeza que até o Trent saiu do palco com a sensação de que tinha entregado, até o momento, o melhor show do festival. E isso não mudaria naquele sábado, mesmo tendo Muse, Disclosure e Kid Cudi pela frente.
Dos três, optei por conferir o que tinha sobrado da voz do Matt Bellamy e ficou claro o porque do show de quinta no Grand Metropole não aconteceu. A banda tentou compensar, tocaram “Lithium” do Nirvana, “Hysteria” com trecho de “Back In Black” do AC/DC intercalado, pena que ficou claro que o Matt ainda não estava 100% recuperado. O show foi empolgante e o publico se propôs a “cantar pelo Matt” na maioria das músicas, mas ficou faltando aquele “algo a mais” que o Muse já se acostumou a entregar. Quem sabe em 2015, como bem disse o Matt através do Twitter após o show.
No domingo, queria ter chegado a tempo de ver o Apanhador Só (12:15) mas só fiz check-in quando o Raimundos e o Brothers Of Brazil deram entrada nos palcos Skol e Interlagos, respectivamente. Isso foi praga da dona Luiza Terrinha, ex-redatora deste site, tenho certeza.
No plano inicial, iria ver o Brothers, mas acabei sem camisa no show do Raimundos fazendo “roda de 3”. É, a vida tem dessas coisas e só provam o quanto festivais são imprevisíveis.
Depois, larguei o grupo de amigos no Johnny Marr e fui ao Interlagos. Por lá, curti o excelente show do Selvagens A Procura de Lei que me presentearam com música nova (“Bem Vindo ao Brasil”), “Despedida”, “Mucambo Cafundó” e otras cositas más que fizeram valer a pena encarar o show, ainda que curto. Espero conseguir ver esses caras em BH ainda em 2014. Por lá, veio o presente de uma cearense que tava sozinha curtindo o show dos conterrâneos. Dessa vez, um copo do Lolla foi o presente.
Após o Selvagens, fui ver um pedaço da Ellie Goulding por culpa da Emille Rangel, nossa redatora e que, certamente, estaria na grade se no Lolla estivesse. Pelo pouco que vi, é outro nome que me teria em um show solo… principalmente se subir no palco de shortinho (parte que eu vi) e terminar de sutiã rosa (detalhe que só fiquei sabendo depois). Aliás, caminhando de volta ao Onix após a Ellie, notei o quanto o festival estava cheio de ruivas. Parece que todas as ruivas do Brasil decidiram dar as caras no Lolla. Não que eu esteja reclamando (porque adoro ruivas), mas deixa eu voltar a falar dos shows antes que alguém reclame do teor do meu texto, ok?
Ao chegar no Onix e reencontrar com os amigos, Ezra Koenig subiu no palco com o seu Vampire Weekend. Que show lindo, que clima divertido. A galera realmente se mexeu no show como se não tivesse amanhã. Até eu arrisquei uns passinhos mais timidos na parte final e, quem me conhece sabe, me fazer dançar é só com altas doses de álcool no corpo (o que não aconteceu por culpa da cerveja que foi disponibilizada). Se o teor de álcool no sangue estivesse alto, certamente estaria no vídeo abaixo, protagonizado pelo amigo Tullio Dias e que resume bem a alegria em torno do show.
[youtube]http://youtu.be/S6Yntoxo2Ho[/youtube]
Do Vampire, fui ver um pouco do Pixies no Palco Skol. Na verdade, fui deacansar já que não sou muito fã. Impossível não cantar com “Where Is My Mind?” e “Here Comes Your Man” tocadas na sequência mas, no geral, o Pixies é aquela banda que eu não consigo ouvir por motivos inexplicáveis. Pouco tempo depois (e após imitar o Tullio e levar um tombo segundos depois dele), estava de volta ao Onix para ser teletransportado para os anos 90. Era o Soundgarden que subia ao palco e realizava um dos meus sonhos musicais, que era cantar “The Day I Tried To Live” ao vivo, a plenos pulmões e como se não houvesse amanhã. Que show meus amigos, que show. Roubou facilmente o posto de melhor show do festival naquele momento e nada parecia tirar isso das mãos de Chris Cornell.
Pouco antes do fim, caminhei em direção ao Skol. Nunca fui fã do Arcade Fire e, mais pelo cansaço, acabei ficando por lá ao invés de ir ver o New Order. E se eu estava com o pé atrás, Win Butler e Régine Chassagne me desmontaram logo nas primeiras músicas. Sem dúvida, um dos melhores shows do festival (mas não bateu o Soundgarden, desculpa). Não são atoa os elogios que surgem mundo afora sobre a banda no palco e, se em estudio ainda não me agrada tanto, ao vivo me fez ver tudo com outros olhos. Não sei se por culpa da entrega do público ou da qualidade da banda (talvez um pouco dos dois), mas valeu – e muito – ter ficado perto do palco e ouvir músicas como “Reflektor”, “Rebellion (Lies)”, “Ready To Start” ou “Here Comes The Night Time“.
No fim das contas, o Lollapalooza saiu com muito mais pontos positivos do que eu esperava. Nem tudo é perfeito (e o festival ainda não goza desse status), mas pelo que eu esperava nos dois dias, certamente superou as expectativas.
E que venha o próximo. Em Interlagos de novo, utilizando todo o espaço do autódromo e com mais coisas interessantes para se fazer. E, se precisar de curadoria para as atrações, estamos a disposição. rs
Até 2015!
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Fotos: I Hate Flash / Lollapalooza