Foram 9 anos de espera até que o Radiohead voltasse ao Brasil. Na época da sua primeira visita, em turnê do In Rainbows, os ingleses seguiram o roteiro Rio-São Paulo, o mesmo que se repete para a atual tour.
Em comum com aquele inesquecível 20 de março, tivemos um público apaixonado (não tanto, verdade seja dita), uma banda com semblante leve e uma verdadeira seleção de clássicos, que também deu ênfase ao maravilhoso In Rainbows (6 músicas).
Thom Yorke e cia entraram em cena com a sensível “Daydreaming” e seus barulhinhos gostosos que lentamente se transformam numa melodia que é como um mantra emocional para todos os sonhadores, que somos todos. A sequência com “Ful Stop” e “15 Step” deixou o público mais elétrico na pista abarrotada. Mesmo nas cadeiras existiam pessoas em pé tentando dançar sem correr riscos de cair ou tropeçar. É engraçado se perguntar como uma banda que surgiu para o sucesso fazendo músicas tristes conseguiu criar canções que nos fazem querer se mover freneticamente.
Inclusive, um caso chamou a atenção no nível 1 das cadeiras: uma garota, que pode ou não ter consumido doses químicas de RH pelo Spotify antes do show, estava fazendo cosplay de pomba gira num autêntico ritual de descarrego. Não vi ninguém na Jeunesse Arena que estivesse curtindo tanto o show quanto ela, que corria, subia e descia as escadas repetidas vezes em “Idiotique”, e cantava todas as canções com um amor que deixa bem claro o quanto música transforma as nossas vidas.
Sem se preocupar com nada ou ninguém (nem o segurança que ignorava a festa pelo show de sua vida e tentava acabar com a animação), ela se jogou de cabeça naquele momento único. Ela fez a única coisa que importa: sentiu as músicas do jeito que precisava.
“Identikit” marcou um dos grandes momentos da noite. Ao vivo, seus arranjos são ainda mais curiosos e chamam a nossa atenção para tentar entender e sentir tudo que está acontecendo na sua introdução. Mas especial, e até mesmo inesperado, foi ver Thom Yorke se convertendo de um momento inicial de irritação com os pedidos persistentes de uma canção pouco antes de tocar “Lotus Flower” num modo 220v, para a completa redenção e deixar todos os fãs de queixo caído ao retornar sozinho para o palco tocando “True Love Waits”.
Na sequência, sem pena, emendou “Present Tense” e as duas últimas com “Paranoid Android” e “Karma Police”. Nessa última, o guitarrista Jonny Greenwood assumiu o piano e provou o quanto o tempo, dedicação e prática (assim como talento) faz a diferença na vida de qualquer profissional que exista. Prestar atenção em Jonny nos shows do Radiohead é ver todo um universo diferente para aquilo que você achava que conhecia tão bem. Esgotados e sem força para um novo bis, o Radiohead encerrou a noite agradecendo imensamente e (literalmente) correndo para as vans que os aguardavam atrás do palco.
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Cada show é uma história e uma lembrança especial que fica registrada na nossa memória. Nesse momento sigo de volta para casa e para encerrar essa memória com a segunda parte, que acontecerá em São Paulo.
Fica a dica para você que é fã da banda: não deixe as desculpas (“moro longe”, “não tenho dinheiro”, “minha namorada não quer ir comigo”, “tô com diarréia” etc) afastarem você do dia 22 de abril em São Paulo. Nunca se sabe quando será a última chance de ver a banda que você ama num momento tão incrível da carreira. Vá ao show e vamos nos encontrar lá para comemorar juntos o nosso próprio 42.