Até pouco tempo atrás, minha jornada musical tendia a cruzar fronteiras internacionais, explorando sonoridades de diversos cantos do mundo.
O mercado nacional, por vezes, passava despercebido em meio a tantas opções globais e, não por uma questão de qualidade, mas por não fazer muito parte da minha vida, tanto durante minha infância, quanto durante minha adolescência. No entanto, com o tempo e um aprofundamento maior nos mares da música, algo fascinante aconteceu: gradualmente, fui conquistado pela riqueza e diversidade que nosso país oferece em termos musicais.
Hoje, vejo que a maturidade musical é como uma infinita jornada pessoal, que nos conduz por caminhos inexplorados. Em 2023, ela me trouxe de volta para casa, para o vasto e eclético mercado musical nacional. Não há dúvida de que o cenário musical brasileiro está em pleno crescimento. Fatores como o advento das plataformas de streaming, a maior exposição de artistas independentes e a diversificação de gêneros contribuem significativamente para esse fenômeno.
Este momento é marcado por uma explosão criativa sem precedentes, consolidando o Brasil como um centro de talentos musicais. Claro que concordo plenamente com o problema atual que ainda enfrentamos, a tão falada “síndrome do vira-lata”: situação que me fez andar em um outro lado da calçada quando conversamos sobre o mercado nacional. No entanto, alguns artistas me fizeram embarcar nessa nova jornada e resolvi falar um pouco deles.
Os 10 artistas brasileiros que marcaram meu ano de 2023
Julia Mestre
Nascida no Rio de Janeiro, a nossa atriz, cantora, baixista e compositora tem aquela pose de diva fodona, sabe? Com atuação tanto solo quanto no grupo Bala Desejo, Julia Mestre foi a ponte para minha transição de heavy metal para a MPB, inclusive, em 2023, a artista lançou seu aclamado álbum Arrepiada, que, em minha opinião, é o melhor disco nacional de 2023.
Infinita Madrugada
A banda Infinita Madrugada foi formada em Fortaleza por Bruno Miranda e Thiago Bernard. Inicialmente, eles lançaram músicas de forma independente, gravando em casa. Após um hiato de dois anos, a banda passou a contar com Lucas Pessoa no baixo e Ivens Garcia na bateria. A nova fase traz influências pop e psicodélicas, mantendo a essência das primeiras músicas da banda.
Cronixta
O músico de Belém, Pará, é influenciado pela diversidade cultural da região. Seu estilo musical, centrado no rap, incorpora elementos latino-brasileiros e amazônicos contemporâneos. Em 2023, lançou o álbum Wifi da Floresta, colaborando com renomados artistas brasileiros. O cantor tem se destacado como uma figura proeminente na cena musical do norte do Brasil, inclusive, bati um papo maravilhoso com ele, que você pode conferir na íntegra aqui.
Metade de mim
A banda formada em 2018 por membros de Jundiaí e São Paulo lançou seus primeiros singles em 2019. Em 2020, o EP Volte, A chuva Acabou teve uma boa recepção, apesar da pandemia ter adiado o seu show de estreia. Em 2022, o EP Depois de tudo que eu passei também foi bem recebido, permitindo à banda realizar seu aguardado show de estreia. Os membros incluem Felipe Angelim, Renan Sales, Danilo Tanaka e Matheus Caccere.
O quarteto se integra perfeitamente no time do “uma amiga me indicou indiretamente e acabei caindo no conto” e, neste caso, graças a deus! (risos). Toda vez que quero de alguma forma me transportar para memórias que tenho de alguns momentos da minha vida, paro para ouvi-los.
Tasha e Tracie
Tasha e Tracie Okereke vem diretamente da minha vizinhança, Jardim Peri (Zona Norte) em São Paulo, e são indiscutivelmente uma das maiores influências no cenário musical atual.
Com determinação, tornaram-se independentes aos 17 anos, trabalhando em diversos setores para se sustentarem. Além da música, as irmãs também deixam sua marca na cena da moda, impulsionando a autoestima e autonomia da juventude negra por meio do blog Expensive $hit. Seu impacto reverbera globalmente, colaborando com marcas renomadas e participando de projetos de destaque, consolidando-as como verdadeiras visionárias no universo da música e da moda.
Quando se trata das gêmeas, sou extremamente suspeito. Em 2023 tive a sorte de assistir a mais de 10 shows, sendo um melhor que o outro. A harmonia entre as duas é simplesmente fenomenal, elevando cada música a outro nível. Com certeza, as gêmeas estão deixando uma marca indelével na cena musical atual. Mal posso esperar para ver o que o futuro reserva para elas.
ARIAH
Cantora, compositora e criadora de conteúdo de São Paulo, ela é reconhecida pelo seu nome artístico, uma alusão ao signo de Áries. Esta escolha reflete sua sinceridade e intensidade, características que transparecem tanto em suas composições quanto em sua estética visual.
Com virais no TikTok que acumularam mais de 20 milhões de visualizações, sua música autoral aborda situações do cotidiano, combinando harmoniosamente elementos do pop e do alternativo. Conheci o trabalho da Ariah durante a edição deste ano do Prêmio MUS e fiquei completamente hipnotizado, tanto na performance quanto na composição da música.
Illinoise
Formada em 2022 em São Paulo, a banda é composta por cinco membros, sendo liderada pela vocalista Beatriz Limeres e pela baixista e backing vocal Luisa Phoenix.
Com Beatriz sendo aluna destacada do professor Bill Sandre, especializado em drives vocais, e Luísa, além de seus projetos autorais, contribuindo em faixas de renomados artistas nacionais, a banda também conta com Lucas Cassoli e Johnny Manfredi, experientes em produção musical; além de Danilo Lourenço, baterista e cantor com mais de duas décadas de carreira, com colaborações em faixas de artistas consagrados.
Suas influências abrangem desde bandas internacionais de rock alternativo e post-rock, como Paramore e Saosin, até referências nacionais como Fresno e Bullet Bane.
Ceano
Formada em 2014 em Campinas, São Paulo, a banda teve início com André Vinco (vocalista e guitarrista) convidando Leonardo Rodrigues (baixista) e Arthur Balista (baterista). Ao longo dos anos, a formação passou por algumas mudanças, mas sempre mantendo o foco na música autoral. Com influências que mesclam rock, indie pop e MPB, a banda lançou seu terceiro disco, Bonsenso, em 2022, refletindo uma sonoridade madura e sinérgica. A banda, no meu ponto de vista, tem um dos sons mais limpos da atualidade, e realmente a especificação de banda gostosinha.
Indigo Mood
Formada em 2014, a banda é liderada por Leonardo Mendes, que compõe, canta e toca vários instrumentos. O projeto cria músicas com texturas melancólicas, ideais para momentos introspectivos. Minha maior referência é o EP Good Friend, Bad Lover, que foi lançado em 2018, e é uma expressão do seu estilo psicodélico influenciado por MGMT e Tame Impala.
Como um fã de ambas as bandas citadas, o som sempre me ressoa como algo familiar. No entanto, com uma identidade musical mais pessoal, a voz do Leronardo realmente é um ponto alto, que casa perfeitamente com sua sonoridade.
MC Soffia
Nascida na Raposo Tavares, Zona Oeste de São Paulo, vem de uma família engajada do movimento negro. Desde sempre, acompanhou a mãe, Kamilah Pimentel, em eventos culturais e debates sobre a cultura negra, sendo introduzida à cena do hip-hop aos três anos. Com o suporte da mãe e da avó, Soffia compõe raps empoderados, abordando temas como racismo e machismo.
A jovem rapper enfrentou desafios no cenário dominado por homens, mas já se apresentou ao lado de nomes como Karol Conka e foi reconhecida internacionalmente como uma das mulheres mais influentes do ano pela BBC em 2017. Eu sinceramente enfrentaria qualquer chuva por ela.
Cada artista listado possui um universo sonoro próprio, um estilo marcante que é marcado de maneira única em meu coração. Diversificados em gênero, raízes e influências, todos eles compartilham um traço em comum: o talento inegável que os posiciona como expoentes do cenário musical nacional.
Viva a música brasileira!