Demi Lovato passou pela capital mineira no começo de setembro com a turnê de seu oitavo álbum de estúdio, o roqueiro HOLY FVCK.
Resgatando elementos do início de sua carreira e adicionando mais peso em sua sonoridade, o trabalho foi lançado em agosto e mostra uma faceta totalmente diferente da qual nos acostumamos a ver quando o assunto é a cantora estadunidense.
Ao invés do pop radiofônico, um clima meio Joan Jett com letras mais diretas e um som recheado de guitarras. É bem clichê citar a líder do Runaways aqui, mas o visual de Demi lembra bastante a artista e, claro, ter a companhia de uma – excelente – banda formada por outras mulheres também nos fazem ir por esse caminho.
Contando com a baterista Brittany Bowman, a baixista Leanne Bowes e a tecladista Dani McGinley, a banda assume o posto de fiéis escudeiras da dona da festa. Lá também está a guitarrista Nita Strauss, já conhecida por trabalhos com Alice Cooper e que domina o instrumento – e o palco – com naturalidade, brilhando e deixando Lovato brilhar.
O show
Em uma noite agradável, a Esplanada do Mineirão abrigou a terceira passagem de Demi por BH e, se a roupagem era diferente, um ponto era o mesmo: a entrega do público. Após diversas questões pessoais, relacionamentos conturbados e uma overdose quase trágica, o público estava – mais do que nunca – pronto para acolher a artista e isso foi sentido ao longo da apresentação.
Antes dela subir ao palco, Jennifer Souza fez as honras da casa e, com um setlist intimista, apresentou um pouco de seu trabalho solo além de faixas das bandas Transmissor e Moons, das quais ela faz parte.
Com direito a fãs empolgados na grade e manifestações contra você sabe quem, a mineira ainda fez uma versão gostosa de “Cool For The Summer” como forma de agradecimento pela noite, descrita como “a mais importante” de sua vida.
Cerca de meia hora depois, Demi sobe ao palco e abre os trabalhos com “HOLY FVCK”, seguida de “FREAK”, “SUBSTANCE” e “EAT ME”, canções que integram o seu registro mais recente de estúdio. Inclusive, vale ressaltar que a versão solo de “FREAK” mostra que a colaboração de YUNGBLUD, que já passa despercebida no disco, se torna totalmente dispensável.
Antes do show, a curiosidade girava em torno da roupagem que Demi Lovato daria para as músicas mais antigas. “Confident”, “Remember December” e “La La Land” foram algumas das escolhidas para essa transformação e o resultado é bem interessante. A última delas ainda ganhou um mashup com “La La”, um clássico incompreendido (!) de Ashlee Simpson e um dos covers apresentados na noite. O segundo apareceu em outro medley, quando a cantora mostrou a nova “4 EVER 4 ME” acompanhada de “Iris”, aquele hit super conhecido do Goo Goo Dolls.
Abordando cada vez mais a sua vida pessoal nas composições, Demi também leva esses momentos para o palco. Músicas como “Skyscraper” – com a Esplanada do Mineirão iluminada por celulares; e “29” – single recente onde a cantora aborda a diferença de idade em seu relacionamento com o ator Wilmer Valderrama – foram responsáveis por momentos de pura conexão entre artista, obra e público.
Ao longo de 19 músicas e pouco mais de 1h15 de show, a cantora parecia confortável no palco, com as companheiras de banda e com os presentes, trocando algumas palavras, declarações de amor e brincadeiras. O show ainda contou com versões bem roqueiras de “Sorry Not Sorry”, “Heart Attack”, o single “SKIN OF MY TEETH” e o hit “Cool For The Summer”, que ressurgiu após se tornar trend no TikTok.
O veredito
Antes de sentar e escrever essa resenha, conversei com algumas pessoas que estiveram na Esplanada do Mineirão sobre a noite e a sensação é praticamente a mesma: a setlist ficou equilibrada e a roupagem rock nas músicas antigas ficou interessante. “Pessoalmente, eu tiraria umas três da era pop e colocaria do CD novo, mas todas as vezes que começou a tocar as pop, o chão da esplanada tremia”, me lembrou a Amanda Magalhães. Eu, ouvindo o álbum algumas vezes depois, passei a sentir falta de “BONES” no setlist.
A Amanda também lembrou da sua sensação ao ver essa nova fase da cantora ao vivo. “A postura de rockeira dela parece que a deixa muito mais confortável no palco”, afirma. “Já fui em shows dela da era pop que pareciam ser ‘duas demis’ completamente diferentes. A vibe é completamente outra”, completou.
Um dos momentos legais do show – pra mim – aconteceu fora do palco: em meio a vários celulares levantados, observei três meninas que, aparentemente, tinham por volta de seus quinze anos e se divertiam como se aquele fosse o último show da vida. Em meio a um público que, majoritariamente, acompanha a Demi há bons anos, observar isso acabou me marcando não só pela renovação de um público, mas por ver que o adolescente de hoje ainda é capaz de se conectar com esse gênero, dado muitas vezes como morto por aí.
Por mais que muitos tenham questionado a presença de palco de Lovato, a sensação é de que a artista vai, aos poucos, encontrando o seu lugar na música. Ainda que seja só uma fase, o HOLY FVCK é um grito de liberdade e ver isso ao vivo foi algo bem interessante. Como alguém que foi criado com a serie Pop do Punk Goes… do lado, espero que essa era roqueira perdure.