Capa de Motordrome, álbum da MØ
Reviews

Review: MØ – Motordrome

Poucos artistas tiveram um divisor de águas tão claro e evidente quanto teve com o smash “Lean On”. A colaboração com Major Lazer – quase sempre obrigatoriamente mencionada – poderia ter aberto um leque de possibilidades, mas gerou uma lacuna identitária na carreira da artista, o que resultou numa longa espera pelo seu segundo registro de estúdio. E claro, escrevemos sobre isso aqui.

Lançado no último dia 28 de janeiro, Motordrome, o terceiro álbum de estúdio da compositora dinamarquesa, trilha caminhos menos opulentos e mais assertivos que seu antecessor.

Basta apertar play e logo na abertura do projeto, temos também seu grande pecado: “Kindness”, uma canção de amor moderna, embalada por cordas e destoante de todo álbum. Ensolarada demais para o tom soturno que o disco apresenta, a produção da faixa dialoga bem mais com a identidade do segundo álbum de estúdio da cantora e no posto de faixa de introdução, ainda assume o risco de desmantelar a atmosfera lúgubre que o projeto oferece ao interator.

“Live to Survive”, o lead single do projeto, recupera o tesão perdido na abertura e faz jus às características que alavancaram MØ na indústria: um synthpop coeso, vocais energéticos e originalidade. Mas a canção com arpeggios repentinos de precisão quase visual, só serviu de prévia para “New Moon” que, também energética, pode ser vista como o grande material “radio friendly” do álbum, e não à toa: ambas as faixas compartilham compositores creditados no pastiche radiofônico Future Nostalgia.

“Wheelspin” faz o papel de faixa título num álbum sem faixa-título. Isso só é possível pois a faixa transcende em acordes os visuais soturnos do álbum e sua produção resume bastante a força do disco: cru, imprudente e essencialmente nórdico.

Um real incentivo ao mosh em concertos pop, a violenta e pulsante “Cool to Cry” só reafirma a impressão acerca de “Kindness”. A vibe punk da faixa não parece querer compartilhar o mesmo cômodo com a faixa de abertura. Mesmo que ambas sejam produzidas por Ariel Rechtshaid.

‘’Goosebumps’’ a balada do álbum, cresce com o ambiente ao seu redor. A faixa guiada por voz e piano se torna muito mais forte com a experiência do álbum na íntegra, onde ganha tom confessional. Mas o ponto alto do álbum fica por conta de “Hip Bones”, um clássico instantâneo de MØ. A faixa sem muitas camadas de produção, cumpre o papel de dar continuidade à sonoridade inicial de seu álbum de estreia com novas referências em sua amálgama.

Em Motordrome, MØ parece repensar sua história sem a já internalizada pressão da indústria, diferente de seu antecessor, puro reflexo desta. Resgatando a essência punk de seus projetos de adolescência, o álbum não banca o suficiente para definir o tom de uma nova fase da carreira, mas é um belo retrato da busca pela honestidade criativa.

Capa de Motordrome, novo álbum da MØ

MØ – Motordrome

Lançamento: 28 de janeiro de 2022
Gravadora: Columbia
Gênero: Pop
Produção: Ariel Rechtshaid, Ronni Vindahl, Jakob Littauer, Jam City, Lotus IV, SG Lewis, Sly e Stint.

Faixas:
01. Kindness
02. Live to Survive
03. Wheelspin
04. Cool to Cry
05. Youth Is Lost
06. New Moon
07. Brad Pitt
08. Goosebumps
09. Hip Bones
10. Punches