Após uma série de singles, o artista carioca Diego Tavares mostra toda a sua versatilidade em seu álbum de estreia.
Intitulado 3 Invernos, o trabalho foi lançado em dezembro do ano passado e tem como ponto de partida a nossa relação com o tempo, sob diferentes aspectos. Além do fato de ter sido quase totalmente composto durante o período de isolamento, o álbum é uma reflexão sobre os três primeiros anos de Diego como um morador de São Paulo.
“Nesse período desde a mudança do Rio para São Paulo, não pude sair muito devido à pandemia, e mesmo sem ela não teria muitos contatos na cena musical, por ter acabado de chegar. Trancado com os discos de meus artistas favoritos, como Leonard Cohen, tirei deles inspiração para as músicas, que também absorveram naturalmente diversas outras influências, musicais ou não”, reflete o artista.
Além disso, o trabalho traduz ainda uma vida inteira de paixão pela música. As primeiras canções de Diego Tavares surgiram ainda aos 13 anos, levando à formação de bandas ao longo do colégio e da faculdade, ainda no Rio de Janeiro. Os caminhos da vida levaram Diego a um relacionamento mais íntimo com a música e fora dos holofotes, agora compartilhado com o público.
Mergulhando nas transformações da vida e nas inseguranças do futuro, ele reúne canções pessoais e intimistas que possuem como base a música brasileira e o folk, mesclados com sintetizadores e batidas eletrônicas climáticas.
Questões de saúde do próprio artista – e mesmo a atual pandemia – fizeram-no refletir sobre a finitude da vida. E esses questionamentos o levaram a uma busca mais profunda pela essência do que fazia. Com isso, 3 Invernos é um produto direto dessa investigação interna. Entre as temáticas das letras, surgem os sonhos, a morte, a dualidade dos sentimentos, as dificuldades nos relacionamentos, a esperança pela luz no fim do túnel e a opressão da rotina.
Das oito canções do disco, cinco já haviam sido reveladas: “Dança”, “Antes do Dia de Fato Começar”, “Pode Ir”, “Se Encontrar” e “Imperfeição”. As inéditas “Vem me maquiar”, a faixa-título e “Interminável” completam essa linha narrativa. A última delas ainda ganhou um clipe para chamar de seu e assinado pela MarQ – Audiovisual.
3 Invernos está disponível nas principais plataformas de streaming e o clipe de “Interminável” pode ser visto logo abaixo:
Faixa-a-faixa, por Diego Tavares:
Interminável: Tristeza e festa, vergonha e orgulho de sentimentos proibidos. A dualidade está presente tanto na letra quanto nas variações rítmicas da faixa de abertura.
3 Invernos: Profunda e reflexiva, com versos marcantes sobre o que acontece com os sonhos após a morte ou sobre o desejo de se esquecer das memórias que doem. Uma pulsação constante e ambiências sonoras dão um toque de tensão à essa música centrada no violão. O título da faixa e do álbum faz referência aos três anos desde que me mudei do Rio para São Paulo.
Dança: Uma batida simples, synths colorindo a faixa e belas melodias numa canção sobre as dificuldades de um relacionamento maduro. Foi o maior destaque dentro os singles lançados antes do álbum.
Imperfeição: Dessa vez a dualidade perde a festa e o orgulho, e restam só a melancolia e a pouca saúde mental nesse que é o momento mais rock do álbum.
Vem Me Maquiar: Talvez estejamos mesmo chegando lá, e Vem Me Maquiar é o fim da pandemia imaginado em forma de Carnaval e paixão. Apropriadamente, a parte musical tem muito de brasilidade e festa, sem descartar por completo o tom de lamento que permeia todo o trabalho.
Pode Ir: A mais triste das oito canções, Pode Ir fala tanto da solidão propriamente dita quanto da solidão compartilhada entre pessoas que não conseguem manter a conexão que um dia já tiveram.
Antes do Dia de Fato Começar: Assim como Dança, Antes do Dia de Fato Começar fala das dificuldades de um amor maduro, que precisa se redescobrir a cada novo dia na tentativa de não sucumbir ao cotidiano.
Se Encontrar: Música escrita em 2004, fecha o disco com leveza, embora nesse álbum até a leveza seja marcada por alguma angústia e certamente por muitos desencontros.