Durante o tempo em que esse texto foi pensado, escrito, revisado e organizado para encaixar perfeitamente nas métricas de SEO, diversas notícias foram publicadas, atualizadas, desmentidas ou esquecidas no meio desse mar de informação com o qual lidamos diariamente.
Nas últimas semanas, os poucos (e fieis) visitantes do Audiograma perceberam que o site passou por um curto hiato e isso foi causado por uma soma de fatores. A principal delas é que eu, John Pereira, editor desse site laranja com mais de uma década de vida, estou em crise nesta relação infiel e desgastante com as chamadas “hard news”.
Não é de hoje que eu ensaio um rompimento unilateral com esse modelo. Claro que é interessante assistir, escrever um texto curto e publicar algo sobre o novo clipe daquele artista que tem lançado vídeos a cada quinze dias. Só que isso demanda tempo. Ainda mais quando você não se sente a vontade em simplesmente copiar e colar aquele texto enviado pelas assessorias de imprensa. Talvez, se eu fizesse isso, o site teria cinquenta notícias por dia ao invés de, no máximo, dez.
Cá entre nós, eu gosto de abrir a minha caixa de e-mail e ver as centenas de sugestões de pautas que chegam diariamente. Nos últimos dois anos, muitas das que chegaram foram o meu primeiro contato com artistas novos e legais que não conheceria pelo Spotify ou por indicação de alguém.
Eu não olhei atentamente o que recebi nas contas do site nos últimos quinze dias, mas resolvi conferir antes de começar esse texto. Até o momento, tenho mais de 6 mil coisas não lidas. SEIS MIL. Eu não devo ter enviado seis mil e-mails em 34 anos de vida, mas recebi em quinze dias. A partir disso, faça um exercício rápido comigo: quanto tempo seria necessário para publicar seis mil pautas em quinze dias? Eu não estaria escrevendo esse texto e vocês só descobririam a minha morte por uma nota de título “dono de site morre após passar 15 dias ininterruptos no computador”.
Essa necessidade de ser abrangente ou “dar conta de tudo” seria melhor digerida se eu estivesse na redação da Billboard, da Consequence Of Sound ou da Rolling Stone. O Audiograma não é um veículo grande. Nunca foi. Talvez nunca seja, inclusive. Isso aqui é um projeto pequeno, administrado de um PC que fica no meu quarto e que, apesar de novo, ainda está sendo pago. É um projeto que tem investimento baixo e que não se paga sozinho. Na ponta do lápis, o Audiograma é um custo e que só não chegou ao fim porque eu sou um pouco insistente e sonhador. Até dizem que isso se deve ao meu signo (peixes), mas eu não entendo nada sobre esse assunto.
Quando ele foi ao ar lá em 2010, era uma válvula de escape onde eu poderia falar dos estilos musicais que eu gostava, já que isso não era possível no meu emprego oficial. Naquela época, como um bom sonhador, imaginava que ele seria o meu projeto de vida uma década depois. Que ele teria o seu festival, a sua rádio, seria referência e criaria as suas próprias “hard news”. Muitas coisas aconteceram desde então e, hoje, ele segue distante desse ideal. Um dos motivos é a forma com a qual eu lido com esse formato onde referência significa abordar tudo o mais rápido possível.
Lembra do Caetano Veloso estacionando no Leblon? A partir do momento em que aquele tipo de conteúdo se tornou o “formato correto” a se seguir, eu sabia que o Audiograma não seria referência. Eu não era capaz de administrar isso aqui sozinho, publicar diversas notícias e ainda manter o meu emprego formal com folha de ponto e 100% presencial. Quando esse último item deixou de fazer parte da minha vida, decidi arriscar. “É agora!”, pensei. No entanto, me sentia como a Elisangela Roxo – a jornalista que estacionou o carro do Caetano e publicou um texto maravilhoso na Piauí por agora. Hoje, tenho plena consciência de que o formato “hard news” me engoliu e algo precisa ser feito.
Esse algo quase foi o fim. No começo de 2020, o lema na minha cabeça era de “vai ou racha” para o Audiograma. Algo na mesma linha adotada pelo Judão, uma das minhas eternas referências de cultura pop e que não resistiu ao tempo por diversos motivos. Só que o pandemônio se instaurou e, com ele, ideias para o YouTube e o podcast acabaram engavetadas, enquanto as forças para lidar com tudo foram sugadas ou direcionadas para a obrigação de pagar as contas no fim do mês. Se não fosse pelos amigos que colaboram com esse espaço, o Audiograma teria entrado em piloto automático – assim como eu – e acabado.
Aos trancos e barrancos, o projeto foi sobrevivendo. O AudioCast respira, textos legais são publicados, mas a felicidade completa ainda não veio. Isso não está mais ligado ao “ser referência”, mas ainda passa pelo processo em si. O Audiograma é um filho e ele não foi uma criança prodígio. Hoje é um pré-adolescente que me dá dor de cabeça. Ainda assim, é o meu filho e preciso ajudá-lo a encontrar um rumo pra sua vida.
No fim, dei essa volta toda para dizer o que você já deve estar imaginando: o Audiograma não acabou, mas vai passar por mudanças. O foco deixa de ser as “hard news” e a ideia de quantidade – eu trabalhava com metas diárias de posts como em qualquer redação que conhecemos por aí – para ser a satisfação de seus envolvidos.
Certa vez, disse em algum programa do nosso AudioCast que cabe aos produtores de conteúdo musical preencherem as lacunas de curadoria e, reconhecendo o nosso humilde alcance, chegou a hora de tentar fazer isso no Audiograma. De agora em diante, o foco passa a ser a publicação de conteúdos autorais. A boa e velha curadoria que muitos amam cobrar das rádios e da MTV e não conseguem fazer.
Inevitavelmente, não dá para esquecer completamente das “hard news”. Esse modelo sempre existiu e continuará existindo. Só que não mais no Audiograma. Quer dizer, ainda terá conteúdos do tipo neste espaço, mas não como até o mês passado. Aquele anúncio de álbum, informações de shows (quando eles voltarem), listas com novos clipes ou os lançamentos da semana ainda estarão aqui… mas o principal local delas passará a ser as redes sociais. Até por isso, nos acompanhe no Instagram, Twitter, Facebook e, porque não, no YouTube e no AudioCast – onde pode surgir algo na linha “slow news”, com o perdão do termo.
O Audiograma (ainda) não acabou e o hiato também não. Volto assim que a casa (leia-se mente) estiver em ordem para contar as novidades.