Foo Fighters
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Review: Foo Fighters – Medicine At Midnight

O mundo precisava de um novo álbum do Foo Fighters? Essa é uma pergunta que eu mais vi por aí após a banda anunciar a chegada de seu décimo trabalho de estúdio.

Após toda a repercussão positiva de Wasting Light (2011), a banda capitaneada pelo sempre boa praça Dave Grohl mergulhou em ideias muito interessantes, mas que não renderam o resultado esperado.

Enquanto Sonic Highways (2014) é um trabalho que vale muito mais pelo documentário produzido com a HBO do que por suas músicas, Concrete And Gold (2017) tinha tudo para ser algo grandioso e recheado de convidados especiais. No fim, acabou tendo um resultado muito aquém do prometido e se tornou um dos álbuns mais esquecíveis dos estadunidenses até hoje.

Com dois trabalhos que não conseguiram romper a bolha dos fãs e se especializando nas turnês cada vez mais lotadas por onde passam, o Foo Fighters precisava de algo novo. Algo que ainda fosse interessante para a banda continuar caminhando. É nesse contexto que o sexteto resolveu apostar em uma sonoridade mais pop, prometendo um trabalho mais dançante.

A partir daí, várias dúvidas surgiram: Dave Grohl com seus vocais rasgados fazendo algo mais dançante? Como isso funcionaria? Vão deixar o rock de lado? O que vai acontecer com a banda?

Foo Fighters
Sexteto sai da sua “zona de conforto” em seu décimo álbum de estúdio.

Qual é a do Medicine At Midnight?

Quase dez anos após cumprir – integralmente – a sua última promessa, o Foo Fighters resolveu buscar um frescor para a sua sonoridade.

A banda mergulha em referências interessantes para construir o Medicine At Midnight. Ouvindo com atenção, você nota com facilidade as influências de nomes como Queen e David Bowie. Ao longo de suas nove faixas, é possível sentir esses elementos em vários momentos, assim como é fácil relacionar riffs e pequenos trechos aos trabalhos de Duran Duran, INXS ou até mesmo o Oingo Boingo, por exemplo.

A abertura com “Making A Fire” já nos entrega um coro com direito a “na na na” e tudo, enquanto “Cloudspotter” tem até um cowbell sendo usado, além de um swing de fazer inveja. Aliás, o coro feminino que acompanha a banda ao longo do álbum conta com Barbara Gruska (The Belle Brigade), a conhecida Inara George, além de Samantha Sidley, Laura Mace e Violet Grohl. Sim, a filha do homem.

Produzido por Greg Kurstin – que também faz parte do time de cordas em “Shame Shame” e “Waiting On A War”, Medicine At Midnight conta ainda com a colaboração luxuosa de Omar Hakim, baterista e percussionista que já trabalhou com nomes como Miles Davis, George Benson, Mariah Carey, Madonna e David Bowie, de quem foi baterista num tal de Let’s Dance, sabe?

Todo esse conjunto em estúdio acaba fazendo com que o principal propósito da banda seja cumprido: a aposta no groove dá um resultado diferente e inesperado. Um frescor que a banda precisava após dois álbuns densos e pretensiosos.

Mas e o Rock?

É claro que o DNA do Foo Fighters que acompanhamos em mais de duas décadas segue presente na sonoridade do Medicine At Midnight. Inclusive, o Foo Fighters sempre se manteve fiel e linear em sua carreira – quando o assunto é a sua sonoridade – e isso não seria diferente agora. Ainda que tenha um álbum mais pesado ali ou aquela pegada bem humorada tenha ficado mais para os palcos ou vídeos, não dá para dizer que a banda negou o seu som em algum momento.

Até por isso, o fã mais purista da banda pode ficar tranquilo que as guitarras e riffs marcantes de Chris Shiflett e Pat Smear estão firmes em “Holding Poison”, por exemplo. O mesmo vale para o baixo de Nate Mendel, que ganha destaque em “Love Dies Young”, e para a bateria sempre bem feita de Taylor Hawkins. O elo com o passado é ainda mais forte com “No Son Of Mine”, a música que mais se assemelha ao Foo Fighters que já conhecemos. No entanto, creio que o ponto alto do álbum – quando o assunto são os seus integrantes – é que a sua pegada mais divertida favorece ao Rami Jaffee e o seu teclado, cada vez mais incorporado ao grupo.

Vale o play?

Gravado antes da pandemia, Medicine At Midnight é, estranhamente, adequado para os dias atuais. É quase como se a banda tivesse previsto o que o mundo enfrentaria mas, ao invés de apenas pontuar todas as catástrofes e nos fazer companhia no caos, Dave Grohl e os demais tentam nos dar motivos para sacudir a poeira e buscar a retomada.

O resultado é um trabalho divertido, que agrega diversos elementos sem perder a sua pegada rock. Contudo, entretanto, todavia, ainda tem as suas escorregadas. Todo o conceito por trás de “Waiting On A War” é interessante, mas a faixa acaba ficando abaixo das demais. Ainda assim, tem um final apoteótico e capaz de animar qualquer show da banda pelo mundo. Por sua vez, “Chasing Birds” é, provavelmente, a melhor balada feita pelo Foo Fighters desde “Aurora” e “Next Year”, que estão lá no There Is Nothing Left to Lose (1999).

Medicine At Midnight prova – pelo menos pra mim – que o Foo Fighters não precisa de ideias mirabolantes ou com um ar de grandiosidade e pretensão para entregar bons resultados. Até porque, ninguém duvida da capacidade do sexteto e, convenhamos, é impossível dizer que eles não são bons músicos. O álbum é simples, direto, coeso e cumpre o prometido sem perder essa necessidade de buscar novas coisas que a banda carrega consigo.

O Foo Fighters parece funcionar muito mais com ideias que são aparentemente simples e isso está longe de ser um demérito.

Capa de Medicine At Midnight, álbum do Foo Fighters

Foo Fighters – Medicine At Midnight

Lançamento: 05 de feveireiro de 2021
Gravadora: RCA
Gênero: Rock / Alternative Rock
Produção: Greg Kurstin e Foo Fighters

Faixas:
01. Making a Fire
02. Shame Shame
03. Cloudspotter
04. Waiting on a War
05. Medicine at Midnight
06. No Son of Mine
07. Holding Poison
08. Chasing Birds
09. Love Dies Young