Reconheço a minha ausência e omissão e caracterizo como uma quase que completa falta de moral e responsabilidade. Tsc, tsc.
Irresponsabilidade é algo feio para um jovem rapaz de 25 anos, enrolado e comprometido pelos próprios problemas pessoais que acabam afetando diretamente outras áreas. Pelo menos por enquanto. Ainda é dificil desfazer certos laços.
Ser um canceriano infeliz não ajuda em nada, confesso. Mas isso não é do interesse dos meus fieis leitores. Na última vez que contei eram quatro, agora depois do meu desaparecimento nos últimos dois meses, devo ter perdido a metade. Enfim. Cá estou com toda a minha característica cara de pau para contar um pouco do mês de dezembro.
Meses atrás eu comentei sobre a minha experiência de ouvir Radiohead depois de uma bebedeira sem fim e agora quero compartilhar outra tentativa inovadora de sentir a música de forma semi-inconsciente. Ouçam blues depois de tomarem duas doses de cachaça com mel, açucar e limão. Depois de alguns meses, finalmente abri o disco do mestre Willie Dixon e cá estou, absorvendo cada gota de solo, notas e gritos insinuantes. O album I am the Blues é uma ode à libido que somada ao poder da “marvada”, deixa qualquer um louco. Preferi a parte final do disco, com faixas como “Im Your Hoochie Coochie Man” e “The Same Thing”. Tenho um certo tesão pelas músicas que praticamente me obrigam a fechar os olhos e balançar o corpo lentamente. Se eu não estivesse em casa, essa seria a senha para levar um “cai fora” de todas as mulheres que cruzassem o meu caminho. O blues entra dentro de nós como um viagra mental para a copula inconsequente. Eu sou debilitado e facilmente corrompível. Que culpa tenho?
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=rpxNJcNRwFA[/youtube]“I Can`t Quit You, Baby” para relaxar os nervos e outras coisas…
De qualquer maneira, acho que esse é um daqueles discos indispensáveis para qualquer colecionador. Ele começou a tocar de novo agora, e bem… “Back Door Man” me dá vontade de ficar em pé, cambalear para os lados, acender um cigarro e achar que sou um morador da sedutora New Orleans. Se eu não estivesse de bode por conta da minha conexão falida da internet, não teria enchido a cara com a cachaça importada do meu avô e muito menos poderia ter tido uma primeira vez melhor. Amar ao som do blues. Inveja daqueles que conseguem ou tiveram chances. Garanto que é quase mais quente que ouvindo The Doors. Digo isso apenas pelo calor crescente que “I Can`t Quit You Baby” deixa em nossas barrigas. Não importa se o alcool coopera para o efeito. O disco é bom e é isso que vocês querem ler aqui no meu espaço nas páginas laranjas do nosso querido Audiograma.
Infelizmente resolvi escrever essa coluna em tempo real. Hoje é apenas dia 16 de dezembro, mas sei que o mês não reserva grandes surpresas musicais. O que tinha para acontecer já rolou e minha atenção está muito voltada para o cinema no momento. Um erro que tenho que cometer para poder começar 2011 com paz e certeza de que meus outros projetos vão conseguir andar. O peso das escolhas. O mesmo peso que está colocando na balança tirar o pobre coitado do Dixon e colocar Kind of Blue do Miles Davis. Minhas opções são limitadas no momento, mas não deixo de achar muita graça de que a maioria dos discos que tenho em mãos são de blues ou jazz. Arcade Fire com o genial Funeral e Silverchair com o igualmente genial Diorama são as exceções. O Led Zeppelin não pode cair em classificações de gênero, pois seria um completo atestado de ignorância de minha parte. Ainda mais se tratando de In Through the Out Door.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=FS98GwpeoE4[/youtube]Passei o ano todo sem ouvir a minha banda favorita e isso é um absurdo. “Across the Night” é só uma das belas canções do album Diorama do Silverchair
Esse mês a única compra musical ficou por conta do U2. Depois de conseguir a felicidade de comprar um dos concorridos ingressos (diz a lenda que Time For Fun inaugurou uma nova espécie de área vip, dessa vez destinada apenas aos cambistas e suas táticas sujas de conseguir ingressos) para uma das três apresentações agendadas para abril do ano que vem. Poderia ter tentado mais de uma, mas a verdade é que por mais que eu idolatre o Bono Vox, o The Edge, Larry Mullen e o Adam Clayton, não posso ignorar os boatos de que o Foo Fighters vai retornar ao país. Quem me conhece há mais tempo sabe que eu sempre digo em alto e bom som que o Dave Grohl é o cara que eu mais faço questão de ver ao vivo. Se para conseguir acompanhar toda a tour dos caras eu tiver que abrir mão do U2 e do Muse, sinto muito Muse Brasil, mas eu vou atrás do ex-baterista do Nirvana. De qualquer forma, não resisti e levei para casa o blu-ray da turnê 360 que passa pelo Brasil nos dias 9, 10 e 13 de abril. Lembro de ter assistido ao show ao vivo pelo youtube e diversas vezes enquanto trabalhava duramente na Livraria Saraiva. Engraçado perceber os pelos do meu braço se arrepiando a cada nova música ou discurso do Bono. O U2 é mais que uma banda e esses arrepios provam isso. Cada pessoa/coisa tem sua forma de nos arrepiar e o jeito que me sinto com a trupe do Bono é diferente do jeito que o Daniel Johns e o Silverchair conseguem, que por sua vez são diferentes do que senti enquanto o Radiohead tocava “Fake Plastic Tree” no show de São Paulo. (Sei que não deveria, mas vou deixar claro que os melhores arrepios que já senti na vida foram causados por uma canceriana bêbada que tirava a roupa ao som do The Doors. Devia ter filmado aquilo, já que não acredito que vá acontecer de novo um dia…) O dia 9 de abril será especial e inesquecível. Principalmente se eles resolverem tocar “Stay” ou “Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me”. O ano de 2011 promete.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=3zxD35OlhaM[/youtube]Chega logo, dia 9 de abril!
Vou tirar o blues e colocar jazz. Estou sentindo um pouco de dor e não existe chance dela passar sozinha enquanto eu ouvir esses convites indecorosos de sexo poético. “You Shock Me” foi a última tortura do dia. Willie Dixon, onde quer que você esteja, você acabou com a inocência da minha tarde de quinta-feira. Seu puto!
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=DEC8nqT6Rrk[/youtube]Não é o jazz que é sofisticado demais: é sua cabeça que não quer pensar enquanto escuta uma música.
Colocar Miles Davis não foi uma solução tão aliviante. Além de não acabar com o tesão que o disco anterior deixou, o trompetista (tesão, trompetista… isso ficou ambíguo mesmo?) acaba funcionando como uma droga lisérgica e “So What” nos faz contorcer o rosto, como se estivessemos participando de uma jam session dos sonhos. O restante do album tem o mesmo efeito, quase me fez enxergar luzes saindo da caixinha de som. Quase. Não bebi tanto assim… Ótima trilha sonora para almoços.
O bom de “descobrir” o blues e o jazz é que parece que a trilha sonora do meu reveillon promete. Espero que todos vocês tenham um excelente final de ano e que entrem em 2011 chutando todos os traseiros! Para os leitores que tiveram paciência com essa coluna durante os meses em que ela foi publicada, muito obrigado e espero ser mais presente no ano que vem. Muito sucesso ao Audiograma e todos vocês, pessoas que amam e respiram música!
.
Discos Ouvidos
– Kind of Blue @Miles Davis
– Funeral @ Arcade Fire
– Diorama @ Silverchair
– I Am the Blues @ Willie Dixon
– High Violet @ National
– The Suburbs @ Arcade Fire
– Morning View @ Incubus
– IV @ Led Zeppelin
– Freak Show @ Silverchair
Discos Comprados
– U2 360 Tour (Blu-ray)