Uma coisa que é complicada de se fazer quando o assunto é Linkin Park trata-se de questionar o caminho trilhado pela banda em sua carreira. Por mais que a direção dada ao som não tenha agradado a muitos, eles seguiram aquilo que acreditavam ser o certo e acabaram, entre erros e acertos, se consolidando.
Lembro-me de ter “largado” a banda de vez após ler uma entrevista concedida ao Guardian, em 2011, quando o vocalista Chester Bennington dizia com todas as letras que “não queria gritar mais”, como uma forma de justificar a aposta em elementos eletrônicos e em um vocal mais melódico. Três anos depois, parece que as coisas mudaram na cabeça de Chester e na banda.
Dizem que o principal motivo é a “vontade de ouvir algo mais rock”, mas acredito que foi a tal consolidação que permitiu à trupe, capitaneada por Bennington e Mike Shinoda, deixar de lado toda a influência e experimentação eletrônica apresentada nos álbuns A Thousand Suns (2010) e Living Things (2012), apertar o botão reset e, simplesmente, começar tudo de novo. Curiosamente, acionar o botão acabou fazendo a banda voltar a soar como algo bem mais próximo de seu excelente disco de estreia, Hybrid Theory, lançado em 2000. Contudo, antes que você imagine, o sexto álbum de estúdio do Linkin Park, The Hunting Party, não se trata de uma continuação do disco lançado há quatorze anos, mas de uma reinvenção. É algo bem diferente na discografia da banda californiana e que, preciso confessar, jamais esperava ouvir deles, principalmente levando os últimos álbuns em consideração e tudo o que foi falado como suporte em seus lançamentos.
Quando já se conhece a banda, é inevitável partir para a comparação com o material produzido anteriormente e, quando fui ouvir o álbum pela primeira vez, a pergunta que martelava na cabeça era se o que tocava era realmente o Linkin Park. The Hunting Party abre com Chester gritando o refrão de “Keys Of Kingdom” com uma voz alterada e a bateria marcando tempo. Parecia “mais do mesmo”, mas aos primeiros acordes percebe-se que algo está diferente. Talvez seja a já citada consolidação ou eles simplesmente resolveram chutar o balde e fazer o que os deixam confortáveis. A questão é que se percebe uma banda muito mais a vontade entre uma música e outra. Como resultado, The Hunting Party é um disco agressivo em muitos momentos, que conta com o casamento de vozes entre Shinoda e Bennington funcionando mais uma vez, Joe Hahn controlando bastante as suas viagens eletrônicas e o trio formado pelo baterista Rob Bourdon, o guitarrista Brad Delson e o baixista Dave Farrell funcionando muito bem. Aliás, Rob e Brad conseguem se sobressair em boa parte das músicas (“Wastelands” é um grande exemplo) e isso é um ponto que merece destaque.
O que também vale comentar são as participações especiais. O Linkin Park convocou Page Hamilton, da banda Helmet, Daron Malakian, do System of a Down, Tom Morello, do Rage Against the Machine, e o rapper Rakim para colaborarem com o álbum e, no geral, o saldo de tudo isso foi positivo. Se Hamilton e Rakim agregaram muito em “All For Nothing” e “Guilty All The Same”, respectivamente, o mesmo não se pode dizer de Tom Morello, que poderia (ou deveria) ser muito melhor aproveitado na instrumental “Drawbar”. Por outro lado, a contribuição de Daron Malakian é um caso a parte. “Rebellion” é uma das melhores músicas do álbum, contudo, é a que pode te deixar mais confuso. Ela lembra tanto o System Of A Down que não é difícil imaginar uma situação inversa aonde a música seria gravada pela banda do convidado e contando com a participação de Chester e Shinoda. Outros pontos importantes são a apresentação de uma pegada hardcore, que era desconhecida (pelo menos pra mim), na rápida “War”, todo o trabalho instrumental feito em “Mark The Graves” e o fechamento do álbum com “A Line In The Sand”.
O Linkin Park resolveu sair da zona de conforto e arriscar, assumindo os riscos de alterar a sua fórmula de sucesso, cuidar sozinho de toda a produção (que nos últimos três álbuns ficou nas mãos de Rick Rubin e agora foi feita por Brad Delson e Mike Shinoda) e tentou ao máximo resgatar os elementos que fazem parte de seu DNA, mas estavam guardados por algum motivo desconhecido. Quando paro para pensar que fazia tempo que eu não ouvia riffs tão altos de guitarra vindos de alguma música deles, posso até dizer que a missão foi cumprida com sucesso. O problema é que pode soar estranho (e até antigo) ouvir esse tipo de som vindo do Linkin Park hoje em dia. The Hunting Party conseguiu ser superior aos quatro álbuns que estão entre ele e o Hybrid Theory e isso já é uma vitória, ainda que a banda tenha precisado de quase quatorze anos para conseguir isso (ou onze, se você quiser considerar a data de lançamento do Meteora).
No fim, é um disco que vale pela ousadia. Resta saber se a banda vai se manter nessa linha ou “resetar” tudo novamente daqui a um tempo.
Linkin Park – The Hunting Party
Lançamento: 17 de junho de 2014
Gravadora: Warner Bros
Gênero: Rock / Hardcore / Rap Rock
Produção: Brad Delson e Mike Shinoda
Faixas:
01. Keys To The Kingdom
02. All For Nothing (Feat. Page Hamilton)
03. Guilty All The Same (Feat. Rakim)
04. The Summoning
05. War
06. Wastelands
07. Until It’s Gone
08. Rebellion (Feat. Daron Malakian)
09. Mark The Graves
10. Drawbar (Feat. Tom Morello)
11. Final Masquerade
12. A Line In The Sand
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