Como todo mundo já sabe, por causa da pandemia de COVID-19, estamos sem futebol e sem shows. Por isso, também estão suspensos os momentos de tomar uma cervejinha no bar assistindo jogo no final de semana e ouvindo um sambinha junto com os amigos. É fato que futebol e música estão completamente ligados um ao outro. O futebol, principalmente o brasileiro, não seria o mesmo sem os cantos das torcidas, os hinos nacionais e o samba no pé dos dribladores. A MPB também não seria a mesma. Aldir Blanc não teria composto “De frente pro crime” sem antes o Januário de Oliveira lançar esse tal bordão em suas narrações e muito menos teria composto “Coração Verde Amarelo” pra copa de 94. Assim como Jorge Ben Jor não seria o mesmo sem “Fio Maravilha”.
Para tentar amenizar um pouco a falta tanto da música quanto do futebol, decidi – no auge da minha autoridade na área (que é exatamente a mesma autoridade que qualquer outro brasileiro tem no assunto) – montar a minha seleção ideal da MPB. Aquele futebol arte que estamos morrendo de saudades e que, com certeza ganharia de mais de 7×1 da seleção de alemã de música popular.
Técnico e esquema
O técnico seria o Aldir Blanc, claro. É contagiante, com palavras inspiradoras, ele tem um estilo de jogo que transita perfeitamente entre o ataque enfeitado e a defesa precisa. Foi um grande líder em partidas importantíssimas da nossa seleção, como aquela na Década de 60 contra o time do Exército.
O esquema de jogo escolhido foi um 4-3-3 ofensivo, porque se tem uma coisa que a MPB não faz é jogar na retranca. A gente joga atacando, com saídas em velocidade e lançamentos pros fundos de quintal de todo mundo. Daqueles ataques arrasadores, cheios de garra e ginga. Do jeito que o brasileiro gosta.
A defesa
Goleiro: Sérgio Sampaio. É daqueles que nem todo mundo sabe o nome, mas quem conhece é completamente apaixonado. Não é reconhecido como deveria, mas sem ele o time seria outro. Faz pontes maravilhosas e jogadas inesquecíveis. “Eu quero é botar meu bloco na rua” cai como uma luva pra sociedade brasileira, assim como a defesa de Taffarel na cobrança de pênalti do Daniele Massaro na final do tetra.
Zagueiros: Tom Jobim e Vinicius de Moraes. São sólidos e consistentes. Dupla entrosada que trabalha junta desde sempre. Têm uma linha de passe maravilhosa e muito eficiente, encantando a gente desde a década de 50. São como Bellini e Mauro Dias, primeiros capitães do estilo canarinho de jogar.
Laterais: Gal Costa e Gilberto Gil. Seriam como Roberto Carlos e Carlos Alberto, respectivamente. Gal é forte e ataca muito com sua voz penetrante. Da mesma forma como ninguém fica na frente das cobranças de falta do Roberto, ninguém fica na frente da voz da Gal. Já Gil, é líder. Dita palavras de ordem inspiradoras, é extremamente técnico e é respeitado por todos. Capitão indiscutível do nosso futebol arte.
Meio e ataque
Meio campistas: Milton Nascimento, Chico Buarque e João Gilberto. Milton seria como a Marta. Camisa 10, incontestável melhor do mundo que nunca recebeu os devidos méritos. Chico Buarque seria o Pelé, cheio de ginga e de marra, aclamado por todos e goleador nato. João Gilberto é histórico, arma as jogadas e pensa nas harmonias de maneiras únicas, se importando mais com os caminhos do que com o final, assim como Garrincha se importava mais em driblar do que ganhar. Tomados pela boemia, a alegria do apito final chegou antes do que gostaríamos “Tristeza não tem fim, felicidade sim”.
Menção Honrosa: Clementina de Jesus. É política. Seria aquela meio campista pra rodízio páreo a páreo com o time titular. Consegue juntar a sensibilidade e razão como quase ninguém, assim como o Sócrates.
Já o trio de Ataque seria formado por Caetano Veloso, Elis Regina e João Bosco. Seriam como Romário, Ronaldo Fenômeno e Rivaldo. Caetano é a ginga, a catimba, o lugar certo na hora certa. O cara que é uma figura complicada com um talento indiscutível. Elis e Ronaldo são iguais, atravessam tudo e todos, aplaudidos em pé pelo time adversário. João e Rivaldo pensam no posicionamento, na rapidez e na fluidez do toque. João Bosco se desloca no violão com a sutileza e a objetividade de Rivaldo no campo.
Muitos não entraram na minha seleção principal, mas existem nomes que não poderiam ficar de fora dos meus 23 convocados para uma Copa do Mundo. São eles:
Goleiros: Itamar Assumpção e Lo Borges.
Defensores: Nara Leão, Fernando Brant e Zeca Pagodinho.
Meio campistas: Marisa Monte, Jorge Ben Jor e Luiz Gonzaga.
Atacantes: Toquinho, Moraes Moreira e Gonzaguinha.
Sérgio Sampaio coloca o bloco na rua, Tom e Vinicius manifestam o “Samba do carioca”, armando para Milton que explicita que “Aqui é o país do Futebol”. Milton lança para Chico que lapida a “Construção” da jogada e assiste Elis, que dispara seu “Tiro ao Alvaro”. GOL!
Essa seleção seria a mais genial e mais criativa da história do futebol arte. Com eles, o hexa não vem, já é realidade. Seria o time mais cativante e apaixonante que veríamos jogar… É uma benção que, por mais que todos não estejam mais em campo, deixaram histórias de vestiário incríveis para que a gente possa continuar “cantando”.