Se tem alguns assuntos que a banda mineira El Toro Fuerte sabe descrever, seriam esses apanhados de lembranças nostálgicas e dolorosas, memórias melancólicas e marcantes, relatos de momentos decisivos. Tudo isso marca o disco Nossos Amigos e Os Lugares Que Visitamos (2019), que pode ser considerado um diário musical.
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O sucessor do disco de estreia Um Tempo Lindo Pra Estar Vivo (2016) sinaliza uma longa estrada — não apenas quilômetros rodados — de amadurecimento emocional, que acabam ganhando espaço nas 13 músicas do álbum como uma nova musicalidade.
Durante as faixas, passamos por mesclagens eletrônicas, viajamos por um rock setentista que soa com a originalidade da música brasileira, até que retornamos ao emo, numa explosão experimental que é dominada com maestria pelo quarteto.
A oficialização de Fábio de Carvalho — responsável pela composição das faixas “Fim do inverno”, “Aniversários são difíceis”, “Corações tranquilos dormem cedo”, “Clara” e “Nos seus movimentos” — e participações femininas e marcantes de Raquel Batista, Laura Vilela e Nicole Patrício são novidades positivas do disco.
“Aniversários São Difíceis” inicia o álbum em uma mistura agridoce de memórias nostálgicas e um certo amargor, indiferença. O arranjo da guitarra junto do vocal dá sensação de passagem de tempo, uma sucessão de pensamentos e acontecimentos que perduram até o dia seguinte. Uma premissa semelhante pode ser percebida em “Fim Do Inverno”, primeiramente lançada como single.
“Aquários” é uma canção intimista e dolorosa. A letra por si já prende a atenção, mas o resultado do conjunto garante repeats. “Santa Mônica” é o que poderíamos chamar de hit do disco. O refrão conta com a voz leve de Raquel Batista, que intensifica a sensação de chiclete, os arranjos são cálidos. Não se assuste se você se pegar cantarolando essa música.
“Calada” carrega a mesma intensidade de melodia, uma música sobre futuro capaz de despertar saudade de algo que ainda não chegou. O mesmo potencial de hit reside em “Nos Seus Movimentos”, uma canção sobre amor e companheirismo. Ali há, outra vez, a aproximação do eu lírico com o ouvinte nos versos “Eu amo como os prédios falam seu nome / Eu amo sentir sua falta de tarde / Eu amo poder respirar de verdade / Sem me agarrar em você”. A letra traz uma simplicidade pura, mas não deixa de ser potente. É aí que reside a força das composições do disco: descrever sentimentos e situações enormes e explosivas em versos que já dizem tudo.
Nicole Patrício rouba a cena em “Casinha”. A finalização com o timbre feminino acompanhado do piano dá força sensível para a composição. É uma canção doce sobre compartilhar, estar presente nas memórias, saber ceder. O arranjo remete a viagem, seja ela temporal ou contada pela distância, como “Fim do Inverno”.
Apesar da evolução das composições, há momentos em que as letras se perdem e passam para o segundo plano. Porém, a mensagem se faz presente ao longo dos 55 minutos sem que haja necessariamente a necessidade de falar. As faixas se desenrolam em diversas histórias, capazes de emocionar pelo sentimento de volta para casa.
Por fim, Nossos Amigos e Os Lugares Que Visitamos cumpre o que promete no título: descreve as histórias de uma turnê especial e as lições aprendidas no caminho, fortalecimento e fim de laços afetivos, sensação de aceitação, apesar de tudo. É um registro sensível de todas as dificuldades passadas, superação, seguir em frente sem se esquecer do que passou — e a capa é o registro visual desses momentos, feita em conjunto por membros e amigos da banda.
El Toro Fuerte – Nossos Amigos E Os Lugares Que Visitamos
Lançamento: 29 de janeiro de 2019
 Gravadora/Selo: El Toro Fuerte
 Gênero: Rock
 Produção: El Toro Fuerte
01.Aniversários São Difíceis
 02. Aquários
 03. Santa Mônica
 04. Fim do Inverno
 05. Calada
 06. Nos Seus Movimentos
 07. Hidra
 08. Antecipação
 09. Direito de Existir
 10. Clara
 11. Casinha
 12. Solar
 13. Corações Tranquilos Dormem Cedo
 
  
 


 
  
  
  
 