“Eu sou o seu homem e você, seja o que quiser”.
Pequenas palavras causam imensas transformações. A música tem esse poder de tornar uma mudança na letra em algo imenso, como é o caso de “Toda forma de amor”, canção escolhida por Lulu Santos para conquistar o público mineiro de forma imediata, na primeira das duas noites da turnê Barítono na capital mineira.
Não é como se existissem desafios ou dificuldades. Na verdade, é muito pelo contrário. Na celebração dos seus 70 anos, Lulu sabe muito bem como seduzir sua audiência, tanto que construiu a sua carreira dentro de uma sociedade machista e homofóbica, que em 1988, dificilmente aceitaria bem realmente ouvir “Toda forma de amor”.
Felizmente, os tempos são outros. Apesar de não desejar mal para quase ninguém, somos melhores e capazes de apreciar a releitura da carreira do Lulu muito além da mudança de tom em suas canções. Para quem não sabe, o maior hitmaker brasileiro está em paz com seu timbre barítono, que é o som da voz mais grave, e modificou a forma de cantar alguns de seus sucessos. Em “Tudo por você” fica mais fácil identificar essa mudança.
![Lulu Santos @ Belo Horizonte - 01/09/23](https://www.audiograma.com.br/wp-content/uploads/2023/09/lulusantos-bh-arenahall-010923-5.jpg)
Acompanhado de Tavinho Menezes (guitarra), Jorge Ailton (baixo), Sergio Melo (bateria), Hiroshi Misutani (teclado) e Robson Sá (vocal), a apresentação de quase duas horas e meia presenteou os que ali estavam com verdadeiras trilhas sonoras da vida real, capazes de nos levar de volta para dias que ficaram para trás.
Aliás, Jorge e Robson mostraram um talento acima da média e chamaram a responsabilidade para si. Cantaram sozinhos, dividiram estrofes com Lulu e deixaram um belo cartão de visitas para quem gosta de descobrir talentos na música brasileira. Ainda que eu seja (muito) fã da formação power trio com Dunga (baixo) e Chocolate (bateria), essa nova banda é mais porrada do que aquela que veio em BH em 2015.
Como um grande mestre, Lulu Santos sabe que o show está muito além da sua música. O cuidado com o palco chama a atenção por optar por jogos de luzes refletindo o tom das suas canções. É um presente para os ouvidos e também para os olhos. A interação com os mineiros também aproveitou do vício em tecnologia e fez as pessoas ativarem as lanternas dos seus smartphones em uma bela troca – e golpe de mestre – para trazer todo mundo para dentro do show.
É clichê falar que o Lulu é como um bom vinho? Se for, peço licença para abraçar o clichê gostoso que não incomoda e constatar o óbvio. Quem sabe fazer, só vai melhorando com o passar dos anos. Foi um belo reencontro com os mineiros, que (ainda bem) ignoraram as cadeiras na pista para ficarem em pé e se jogarem do jeito que um bom show pede.
Veja mais fotos do show, feitas pelo John Pereira, na galeria abaixo: