Os 100 melhores álbuns de 2020

Essa deve ter sido a missão mais difícil em um ano recheado de bons lançamentos.

   90) A Hero's Death, do Fontaines D.C.

Os irlandeses do Fontaines D.C. voltaram a ação menos de 18 meses depois do lançamento de seu disco de estreia, o excelente Dogrel, quando surgiram como mais um dos ótimos nomes do post-punk atual.

Em A Hero's Death, seu novo álbum, o quinteto resolveu desacelerar um pouco as coisas, apostando em uma sonoridade mais psicodélica, flertando com o dreampop e com uma estética mais sessentista. É nítido como o som está menos cru, e com mais distorções.

Por outro lado, algo que não mudou foi o nível das composições, recheadas de versos que retratam a situação de quem vive o caos do mundo moderno. Sendo assim, A Hero's Death, se não supera o seu antecessor, pode ser olhado como um disco que reafirma o Fontaines D.C. como uma das melhores bandas de rock da atualidade. [RS]

89) The Baby, da Samia

Após alguns singles lançados nos últimos anos, Samia Finnerty entrega o seu primeiro álbum de estúdio. The Baby é uma coleção de canções que falam sobre as vivências da cantora e compositora estadunidense, abordando questões amorosas, conflitos internos e todo o existencialismo que existe dentro de um jovem adulto.

De uma forma sensível, as onze faixas entregam um indie com pitadas de pop/rock e o resultado é bem gostoso de se ouvir. Ouça com atenção as faixas "Fit N Full" e "Is There Something in the Movies?". [JP]

88) Ghosts V: Together / Ghosts VI: Locusts, do Nine Inch Nails

De uma só vez, o Nine Inch Nails resolveu nos brindar com dois álbuns. Doze anos após Ghosts I–IV, Trent Reznor e Atticus Ross dão continuidade à série de canções ambiente iniciada em 2008.

No primeiro álbum, a sua sonoridade nos leva para um mundo mais tranquilo e otimista, funcionando como um polo positivo do projeto. Já em Ghosts VI: Locusts, o caminho é outro. Ao longo de suas quinze faixas, damos a mão para a ansiedade e a agonia causada por algumas delas, que te jogam em uma atmosfera bem sombria.

Apesar de criarem sensações distintas, são dois bons trabalhos que se completam. [JP]

87) Plastic Hearts, da Miley Cyrus

Após tantas eras diferentes que foram do pop teen ao country, Miley Cyrus finalmente parece ter aceitado que é uma rockstar. Em Plastic Hearts, a cantora homenageia o rock resgatando a sonoridade do gênero nos anos 80 e colocando-o de volta nas principais paradas musicais ao mesmo tempo em que traz grandes nomes tanto dessa época, quanto da atualidade: Billy Idol, Joan Jett e Stevie Nicks participam do disco, assim como Dua Lipa, que divide os vocais com Miley na grudenta "Prisoner".

Destaque para "Bad Karma", dueto com Joan Jett que combinou perfeitamente as vozes rasgadas das duas cantoras, e para "WTF Do I Know?", que abre o disco com uma linha de baixo contagiante. [GC]

86) Black Habits, do D Smoke

D Smoke é, definitivamente, um cara diferente. Após ganhar a primeira temporada do Rhythm & Flow – reality da Netflix – e lançar o EP Inglewood High, a expectativa em torno do rapper californiano só cresceu e são totalmente correspondidas em Black Habits.

Ao longo de suas 16 faixas, o trabalho conta com excelentes letras, batidas marcantes com pitadas de Jazz e uma facilidade incrível para mesclar inglês e espanhol sem parecer forçado.

Ainda que o álbum se perca em alguns momentos, é um registro que mostra Daniel Farris em constante evolução, deixando claro que ele tem muito para nos oferecer. [JP]

85) Gaslighter, do The Chicks

Catorze anos depois, algumas pessoas se perguntaram se o The Chicks ainda era capaz de nos entregar boas músicas e a resposta não poderia ser outra.

Gaslighter é um álbum que faz jus ao legado do trio – que mudou de nome em 2020 – e, mais do que isso, é um belo exemplo de retorno marcante e bem atual. Mesclando country, folk e pop, as integrantes abordam tudo o que viveram dentro da indústria pelo simples fato de serem mulheres fazendo música. Questões pessoais também aparecem ao longo das doze faixas do registro, como o divórcio enfrentado por Natalie Maines.

"Texas Man", "Tights on My Boat" e "Everybody Loves You" são verdadeiras pérolas. [JP]

84) ENERGY, do Disclosure

Batidas envolventes, um passeio por gêneros e estilos e a assinatura já conhecida dos irmãos Lawrence.

ENERGY é, provavelmente, o trabalho mais interessante da dupla britânica em sua carreira e funciona ao mesclar influências, sonoridades e elementos ainda não explorados pelo Disclosure. Acompanhados de um time sensacional de convidados, o resultado é um house radiofônico, pronto para as pistas e repleto de hits em potencial.

Com toda a certeza, é para se ouvir do começo ao fim. [JP]

83) CORPO SEM JUÍZO [EP], de Jup do Bairro

A mescla de estilos e sonoridades se faz presente em CORPO SEM JUÍZO, o EP de estreia de Jup do Bairro.

Produzido por BadSista, o primeiro registro da artista paulistana aborda sexualidade, política e o corpo ao longo de suas sete faixas, com destaque para "Pelo Amor de Deize" e o seu refrão hard-rock com participação de Deize Tigrona.

Inclusive, só para descrição da faixa você já consegue entender como o EP é um registro plural e diverso. [JP]

82) MANIC, da Halsey

Com um dos álbuns mais esperados do ano, Halsey lança seu trabalho mais maduro, o terceiro de sua carreira. MANIC é profundo e tem um quê de conceitual, fugindo do lugar comum do pop ao mesclar ritmos de hip-hop, country e R&B.

As melodias suaves e sua voz potente – que aparece ora limpa, ora através de autotune – contrastam com letras fortes que mostram um outro eu da cantora. A primeira faixa, "Ashley", revela o verdadeiro nome de Halsey (um acrônimo) e chama atenção para o que está por vir: algo visceral, profundo e verdadeiro. Diagnosticada com transtorno bipolar, o título faz menção ao estado de mania típico do distúrbio, e as batidas e letras percorrem histórias particulares mas que, ao mesmo tempo, são temas de fácil identificação com o público.

As 16 músicas do álbum são feitas para serem ouvidas em sequência, completando uma narrativa doce e emotiva. [JT]

81) The Covideo Sessions, do Half Moon Run

Juntos há dez anos, a banda de Montreal fez bonito ao lançar o projeto The Covideo Sessions, uma série de vídeos com hits do quarteto - agora trio. Entre canções dos três álbuns de estúdio, as gravações ganharam singles inéditos, além de participações especiais.

O álbum de mesmo nome foi lançado em setembro trazendo na bagagem 11 sucessos da banda indie, em versões acústicas, gravadas simultaneamente na casa de cada integrante. Destaques para as lindíssimas "Grow into Love", All at Once" e "Give Up" - essa última com participação do grupo de música clássica, Esca String Quartet. [AFM]

80) Rastilho, do Kiko Dinucci

Em seu segundo álbum solo, Kiko Dinucci dá ao violão um grande destaque dentro da obra.

Em meio a faixas autorais e releituras, o músico capricha na riqueza de detalhes em torno das onze canções escolhidas, resultando em um álbum conciso, bem produzido e que tem muito a nos dizer.

Rastilho entra na lista de bons álbuns nacionais dos últimos anos e, como não poderia ser diferente, figura em nossa lista de melhores de 2020. [JP]

79) 5 Years Behind, da THICK

Em seu álbum de estreia, o trio THICK resolve subverter todo o estereótipo do pop punk ao abordar as suas experiências dentro da cena musical como um grupo formado por mulheres.

Músicas como "Your Mom", "Mansplain", e "Party With Me" são belas portas de entrada para o som interessante, cru e sem sutilezas que é feito por Nikki Sisti, Shari Page e Kate Black.

Se o objetivo era chegar "com o pé na porta", o THICK cumpriu muito bem o seu propósito em 5 Years Behind. [JP]

78) THE ALBUM, da Teyana Taylor

Teyana Taylor tomou para si o R&B tradicional e, explorando várias questões pessoais, conseguiu unir tudo isso em um registro que pode ser encarado como o mais completo de sua carreira até então.

Recheado de convidados especiais – que vão de Erykah Badu a Ms. Lauryn Hill, passando por Future e Rick Ross -, THE ALBUM é um trabalho longo mas que está longe de ser cansativo.

São 23 músicas em quase 80 minutos bem construídos onde Teyana fala sobre a sua vida, sexualidade, maternidade, vulnerabilidade ou a visão que o mundo tem dela. Tudo isso de forma clara, como Taylor sempre foi. [JP]

77) Song Machine, Season One: Strange Timez, do Gorillaz

Fazia tempo que um trabalho do Gorillaz não era tão rico como essa primeira temporada do Song Machine.

O projeto capitaneado por Damon Albarn conseguiu encontrar um equilíbrio entre tudo o que fez após a chegada de Plastic Beach (2010) e o resultado é um trabalho que aproveita o que deu certo antes e mistura com novas experimentações sonoras e convidados.

É difícil não se pegar curtindo o álbum e seus diversos momentos brilhantes, em especial nas faixas "Strange Timez" e "Momentary Bliss". [JP]

76) 10:39 [EP], da Sandy

A quarentena e os momentos de reflexão acabaram se transformando em um trabalho criativo da Sandy.

Em seu novo EP visual, três covers - muito bem escolhidos - retratam as angústias, os medos e as vontades que sentimos em um mundo que estava em isolamento social. Sempre perfeccionista, desta vez não foi diferente.

A produção é de seu marido, Lucas Lima, que conhece o tom da cantora melhor do que ninguém e, claro, conseguiu extrair todas as emoções da cantora e as imprimiu nas faixas do 10:39. [YC]

75) 111, da Pabllo Vittar

Em seu terceiro álbum, Pabllo Vittar – acompanhada de seus parceiros habituais da Brabo Music Team – mistura música latina, axé, brega, funk, e até mesmo gospel, para entregar um disco dançante, cheio de singles com refrões grudentos e perfeito para baladas.

Apesar de parte do disco ser formado de músicas já conhecidas pelo público devido ao lançamento do EP 111 1, no final de 2019, as músicas novas funcionam bem juntas, fazendo com que Pabllo novamente se mostre como uma das poucas artistas brasileiras que sabe como engajar e divertir o público.

Destaque para "Rajadão", uma mistura de hino gospel e trance que provavelmente não funcionaria com nenhum outro artista se não Vittar, e "Lovezinho", parceria com Ivete Sangalo. [GC]

74) Fake It Flowers, da beabadoobee

Após alguns trabalhos nos últimos anos e que lhe renderam alguma atenção, Beatrice Laus resolveu colocar no mundo o seu primeiro álbum de estúdio e não fez feio.

Fake It Flowers mostra toda a essência da jovem e é todo construído a partir do pop rock noventista. É um trabalho bem melódico e é fácil encontrar semelhanças com nomes importantes daquela década, como o Hole.

Apesar de ter uma quebra importante na sua construção, o álbum de estreia da beabadoobee mantém a sua qualidade, mesmo caminhando por estradas inesperada em sua parte final. [JP]

73) Homegrown, do Neil Young

Lá na década de 70, Neil Young engavetou o lançamento de Homegrown por ser um álbum que – segundo a análise do músico – destoaria de sua discografia.

Quatro décadas depois, a lenda resolveu atender aos desejos dos fãs e liberar o registro que, de forma leve, fala sobre a sua relação com a atriz Carrie Snodgress. Ainda que tenha sido abordado em outros registros da época, o relacionamento é tratado por uma paleta diferente em Homegrown, fazendo do álbum um trabalho confessional, humilde e cativante. [JP]

72) Mordechai, do Khruangbin

Não dá para discutir: o Khruangbin conta com uma das sonoridades mais ricas da música na atualidade, graças a sua bela mistura de psicodelia, soul, funk, dub e rock. Dito isso, o trio parece querer explorar novos pontos em sua carreira e Mordechai é um belo exemplo disso.

O terceiro registro de estúdio da banda consegue aliar a sua sonoridade incrível a vocais bem trabalhados, resultando em um álbum que dialoga perfeitamente com o momento atual no mundo. É uma música capaz de te transportar para um lugar bonito e tranquilo na companhia de uma trilha sonora marcante. [JP]

71) Suddenly, do Caribou

Quase seis anos após Our Love (2014), Dan Snaith retoma as atividades com um de seus projetos mais elogiados, o Caribou.

Em seu sétimo álbum, o canadense entrega um trabalho capaz de agradar os fãs das antigas e, ao mesmo tempo, conquistar novos seguidores. O indie eletrônico de Suddenly tem uma pitada de experimentalismo sem deixar de ser acessível. Dá para ouvir na balada indie e se contagiar pela levada de faixas como "Ravi", "Home" ou "You and I", sendo que a última tem umas camadas e variações simplesmente sensacionais. [JP]