TOP 10: John Pereira

O nosso editor-chefe seleciona os seus dez lançamentos preferidos de 2022 entre álbuns e EPs.

   10) Dragon New Warm Mountain I Believe in You, do Big Thief

Ambicioso na proposta e simples na audição. Talvez essa seja a melhor forma de se definir o Dragon New Warm Mountain I Believe in You, quinto álbum de estúdio do Big Thief.

A ambição está em se fazer um álbum duplo com vinte faixas. A banda estadunidense não economizou e, provando estar em seu auge criativo, entrega um trabalho extenso e que funciona do início ao fim. Ao mesmo tempo, é um registro acolhedor e gostoso, que funciona como um abraço naqueles dias tristes. Até por isso, funciona mais quando ouvido por inteiro.

Nos dias atuais, ouvir um álbum por 80 minutos parece uma missão complicada mas, vá por mim, será uma das experiências musicais mais confortáveis da sua vida.

9) Lucifer on the Sofa, do Spoon

Cinco anos após Hot Thoughts, o Spoon coloca no mundo o seu décimo álbum de estúdio e Lucifer on the Sofa mostra o quanto eles ainda são criativos.

Com quase três décadas de existência, a banda capitaneada por Britt Daniel e Jim Eno entrega um álbum divertido e que evidencia a capacidade do Spoon de fazer um rock simples, clássico e fresco. Tudo ao mesmo tempo.

A guitarra marcante de "The Hardest Cut" é capaz de te conquistar, mas é em "Wild" que você encontra o grande tesouro de Lucifer on the Sofa. Facilmente, uma das minhas músicas preferidas do ano.

8) RENAISSANCE, da Beyoncé

Beyoncé é, hoje em dia, a artista mais imprevisível da música e ela nos deu mais uma prova do quão surpreendente pode ser.

Ninguém esperava que o sucessor de Lemonade fosse uma declaração de amor a Dance Music. É simples dizer que RENAISSANCE foi feito para as baladas, mas ele é mais do que isso: é um passeio pela história do gênero, mesclando elementos do passado e do presente, tal qual uma verdadeira celebração.

"VIRGO'S GROOVE" e "CUFF IT" já são proprietárias de um lugar cativo no meu coração.

7) A Light for Attracting Attention, do The Smile

O The Smile é o encontro de Thom Yorke e Jonny Greenwood - aqueles caras daquela banda mega conhecida - com o baterista Tom Skinner, conhecido por seu groove com o incrível Sons of Kemet.

Uma união improvável que, produzida por Nigel Godrich, logo entregou o seu registro de estreia, o quase perfeito A Light for Attracting Attention.

Não dá para fugir das comparações com o passado e, até por isso, o álbum parece uma versão mais "feliz e groovada" do Radiohead. Um exemplo claro disso está em "The Smoke" e a sua linha de baixo gostosa e envolvente. "Thin Thing", "We Don't Know What Tomorrow Brings" e "Skrting On the Surface" também merecem destaque.

Em meio as incertezas sobre o futuro do Radiohead, o The Smile mostra que parte de seus integrantes segue criativa e capaz de entregar músicas de excelente qualidade.

6) Ants From Up There, do Black Country, New Road

Uma das melhores coisas do segundo álbum do Black Country, New Road foi, logo na sua primeira audição, perceber que o For the First Time, seu registro de estreia, não foi uma obra do acaso.

Em Ants From Up There, a banda consegue ampliar tudo o que foi entregue naquele que foi um dos melhores trabalhos do ano passado, mesclando ainda mais elementos ao seu rock experimental e cheio de camadas.

Ainda que seja um trabalho tão denso quanto o primeiro, o BCNR parece bem confortável ao longo de suas dez faixas, não deixando transparecer qualquer tipo de pressão ou preocupação. É "só" uma banda mostrando o que sabe fazer de melhor. Ants From Up There soa como um fechamento de ciclo e isso faz ainda mais sentido com a saída de Isaac Wood, seu principal vocalista, anunciada dias antes do álbum ser lançado.

Se não dá para saber qual será o próximo passo do BCNR, é possível dizer que esse ciclo inicial foi simplesmente impecável e os doze minutos de "Basketball Shoes" são a melhor conclusão que um fã poderia querer.

5) Habilidades Extraordinárias, da Tulipa Ruiz

Habilidades Extraordinárias é, provavelmente, o nome que melhor traduz o quinto álbum de estúdio de Tulipa Ruiz.

Ao longo das onze faixas, a gente vai descobrindo todas essas habilidades. O álbum vai da calmaria ao caos, do conforto a estranheza, da paz ao dedo na cara sem soar desconexo. Tudo aqui funciona como uma unidade e está bem amarrado, como um bom registro deve ser.

Acompanhada pelo irmão e produtor Gustavo Ruiz, a artista mantém ainda mais intensa a sua capacidade de provocação. Seja pelas composições, pela construção dos versos, jogo de palavras, ritmos que grudam na cabeça ou pela experimentação aliada a eles, a música feita por Tulipa te envolve de uma maneira quase que única.

Habilidades Extraordinárias é Tulipa Ruiz em sua melhor forma. Mesclando o passado com o presente e pavimentando o caminho para um futuro ainda mais prolífero.

4) The Car, do Arctic Monkeys

Aqui não existe "8 ou 80". Ainda que os trabalhos recentes tenham criado uma ruptura entre passado e presente, é impossível dizer que o Arctic Monkeys não vive o seu melhor momento criativo.

The Car tem tudo o que Alex Turner e companhia entregaram aos fãs ao longo dos anos: composições afiadas, busca por novas sonoridades, desafio perante a zona de conforto e uma produção de se supera.

Gostar de "I Bet You Look Good on the Dancefloor" e, ao mesmo tempo, de "Hello You" parecem coisas conflitantes para boa parte dos fãs, mas se tem uma coisa que me faz admirar o Arctic Monkeys é pegar o seu carro e ir sempre na contramão daquilo que se espera deles.

Nunca fui em um cassino de Las Vegas, mas tenho certeza que "I Ain’t Quite Where I Think I Am" é uma boa música para ouvir enquanto se perde dinheiro jogando blackjack. Da mesma forma, "Body Paint" parece saída de uma trilha sonora de algum 007, naqueles momentos em que o James Bond (nas fases Sean Connery ou Roger Moore) pedem uma bebida no bar. E isso só me faz gostar ainda mais do The Car a cada audição.

3) Cave World, do Viagra Boys

Pouco mais de um ano após o elogiado Welfare Jazz, os suecos do Viagra Boys voltam com aquele que é o melhor trabalho de sua carreira.

Em seu terceiro registro de estúdio, a banda evidencia o seu processo de evolução em um trabalho cativante, divertido e sarcástico, usando de um bom humor para abordar questões que a gente ainda não acredita que estamos discutindo em 2022, como a eficácia das vacinas.

Tudo isso embalado por um post-punk dançante que fazem de Cave World o trabalho de rock gringo que mais me conquistou neste ano. "Ain’t No Thief", "Return to Monke" e "Creepy Crawlers" não me deixam mentir.

2) Jardineiros, do Planet Hemp

Colocando um ponto final em mais de duas décadas de espera, o Planet Hemp entrega um álbum poderoso e que faz jus a todo o seu legado.

Ao longo de quase quarenta minutos, JARDINEIROS traça um elo entre o passado e o presente, tocando em várias das feridas ainda presentes na sociedade brasileira. Abordando legalização da maconha, política e o abismo social intensificado nos últimos anos, o Planet embalou o seu discurso com um som que lembra os trabalhos anteriores e, ao mesmo tempo, dialoga com estilos mais populares nos dias atuais.

Ainda que Marcelo D2 e BNegão assumam o protagonismo, o trabalho feito por Formigão (baixo), Pedro Garcia (bateria) e Nobru (guitarra) ao longo do álbum é impecável. Isso fica claro na parte mais hardcore do álbum, como "TACA FOGO", "FIM DO FIM" e "VEIAS ABERTAS".

JARDINEIROS é um reflexo da sociedade atual e a sua regressão faz com que seja preciso abordar temas debatidos em 2000, quando o A Invasão do Sagaz Homem Fumaça foi lançado. Até por isso, o álbum é exatamente o que eu esperava do Planet Hemp em 2022.

1) Mr. Morale & The Big Steppers, do Kendrick Lamar

Kendrick Lamar já colocou o seu nome na história da música e toda a expectativa em torno de seus próximos passos é cercada de curiosidade. Cinco anos após DAMN., o rapper entregou mais uma obra marcante, por motivos distintos.

Mr Morales & The Big Steppers é um trabalho duplo e que, pela primeira vez, mostra um lado vulnerável e até mesmo confuso de Lamar. Ao longo do álbum, abordagens sobre a masculinidade negra, traumas, responsabilidades, questões familiares e a relação com a internet transformam a audição em uma grande sessão de terapia.

Por ser um trabalho pessoal, o resultado pode soar confuso. No entanto, seus momentos de genialidade acabam superando algumas abordagens problemáticas.