TOP 10: Bárbara Silva

A Bárbara selecionou os seus dez lançamentos preferidos de 2022 entre álbuns e EPs.

   10) Gêmeos, do Terno Rei

O terceiro álbum de estúdio de Terno Rei é, de certa forma, o mais ousado dos registros já apresentados.

Se distanciando da melancolia e do shoegaze apresentado no antecessor Violeta (2019), Gêmeos é uma tentativa do grupo a ingressar numa sonoridade mais indie pop. Se a sonoridade tenta ser diferente, o mesmo não acontece tanto com as letras: as faixas passam pelo abandono e angústias da dissipação da juventude, mas que podem ser vistas por um ângulo diferente do que vinham trabalhando desde então.

9) Stumpwork, do Dry Cleaning

Stumpwork é um álbum que dá o que falar logo pela capa: é o puro desconforto de se deparar com uma situação cotidiana, mas que dessa vez você não pode interferir.

Segundo álbum do quarteto londrino, o álbum traz uma sonoridade pós-punk honesta, mas que lembra demasiadamente o experimentalismo de Sonic Youth. As guitarras agudas é um convite para que o ouvinte mergulhe de cabeça nos curtos versos de Florence Shaw, que em contraponto a toda agudez dos instrumentos, canta em uma voz sussurrada, quase arrastada.

8) Eyeye, da Lykke Li

Para quem estava com saudade do álbum Wounded Rhymes, Eyeye é uma grata surpresa para o ouvinte.

Lykke Li retorna com um álbum ainda mais triste que o antecessor, se é que isso é possível. Se o álbum So Sad, So Sexy é considerado o mais fraco da carreira da artista, Eyeye vem para corrigir os erros de composição, apresentando uma nova versão de como a artista trabalha a tristeza para além do campo pessoal.

Este é o registro de um álbum de profundidade que chega a ser opressora — é comedido em sua sonoridade, como se cada nota fosse cuidadosamente pensada e inserida no momento exato. É mais do que ‘um álbum que fala sobre tristeza; é o sentimento em forma de música. Mas isso não é uma coisa ruim, não é mesmo?

7) Renaissance, da Beyoncé

Evocando a sonoridade do pop noventista, o sétimo álbum de estúdio de Beyoncé tinha tudo para ser mais um registro saudosista daquela década. Entretanto, é da rainha do pop que estamos falando: sem nunca dar ponto sem nó, Renaissance é, na realidade, uma homenagem à comunidade LGBT.

Ela experimenta ritmos de comunidades marginalizadas e os traz à tona, num esforço de recuperar o que foi roubado dessas comunidades. Ao longo de uma hora a artista convida o ouvinte para a pista de dança, passando pelo house e R&B, mas não é apenas um pano de fundo: funciona perfeitamente com suas letras que vão do amor para a negritude, erotismo e autoestima.

6) Fossora, da Björk

Mais experimental que nunca, Björk volta com seu novo álbum, Fossora.

Mesmo sendo menos pop do que alguns fãs esperavam, o álbum entrega um intenso registro documental sobre amor, morte e o processo de luto, sendo mais um álbum que expõe a afetação da artista pelo isolamento social promovido pela pandemia nos dois últimos anos, além de explorar de forma delicada a morte da mãe, Hildur Rúna Hauksdóttir.

É um álbum denso, como prometido pela artista na divulgação do primeiro single do álbum, Atopos. O ouro do registro reside na própria sonoridade que se expande e pressiona o ouvinte, tal qual a proliferação dos fungos que foram o ponto de partida da pesquisa da artista.

5) Jardineiros, do Planet Hemp

Adivinha doutor quem tá de volta na praça? O Planet Hemp retorna após um hiato de 22 anos com o novo álbum Jardineiros, tão revolucionários quanto costumavam ser.

O trabalho se volta para o momento de instabilidade política que se instalou no país após quatro anos de um governo miliciano — e não por acaso foi lançado no dia anterior ao segundo turno das eleições presidenciais. Como esperado, as faixas são posicionamentos à favor da legalização da maconha (e avisos para que o usuário não financie o tráfico de drogas). O registro conta com participações de peso que vão de Criolo a Tropikillaz e ainda traz a participação especial do ex-membro Black Alien.

Tem para todo mundo: as faixas passam do rap ao rock em instantes, transformando o álbum em uma caótica manifestação organizada.

4) Lauren Hell, da Mitski

Após quatro anos de seu último lançamento, Mitski retorna à ativa com o elogiado Laurel Hell.

O ponto de partida não é original: o isolamento social causado tanto pela pandemia quanto por fatores pessoais da artista. A melancolia ganha espaço entre os sintetizadores e a voz taciturna da artista, mesmo nas faixas mais animadas, como "Love Me More", cujo ritmo evoca um pop oitentista.

Laurel Hell é um registro íntimo que perpassa por temas como o prazer feminino, adversidade e como superá-las.

3) Mil Coisas Invisíveis, do Tim Bernardes

Segundo álbum solo de Tim Bernardes, Mil Coisas Invisíveis comprova a doçura e complexidade do artista.

Os versos íntimos que permeiam o trabalho não parecem ter sido escritos para cantar junto, mas para serem apreciados em silêncio, como se o ouvinte acompanhasse uma história com efeitos, não uma música. Existencialismo é a palavra chave do álbum, bem como a tristeza já muito conhecida pelos fãs: todo o trabalho perpassa pelo fim dos laços, às vezes promovido pelo próprio eu lírico.

Para quem acompanha Tim desde seu primeiro álbum, vai encontrar poucas surpresas em suas composições quase acústicas, mas isso não é um problema — a sonoridade é como voltar para casa depois de uma longa viagem.

2) Habilidades Extraordinárias, da Tulipa Ruiz

Habilidades Extraordinárias é o primeiro álbum de inéditas de Tulipa Ruiz em sete anos. É delicioso perceber como a artista mantém o frescor de sua obra, reverenciando a antiga MPB e os novos gêneros que tomaram espaço nos últimos anos; além disso, mantém uma sonoridade dançante já conhecida do público, mais madura que nunca em seus flertes com o sintetizador eletrônico.

Torna-se cansativo dizer que é um álbum que atravessa temas como o isolamento social, mas esse é só um dos fios condutores do registro: Habilidades Extraordinárias também nasce de uma história inusitada relacionada a um visto de trabalho para os EUA. De fato, Tulipa Ruiz prova que fazer música é a mais extraordinária das criações, sendo múltipla e única.

A grandeza do trabalho está no respeito pelo tempo, que, num mundo acelerado, mastiga e cospe os artistas numa velocidade absurda; Tulipa dribla a efemeridade das redes ao ditar o ritmo de seu trabalho, bem como em suas preferências para a gravação, que contou com um processo quase inteiramente analógico.

1) SIM SIM SIM, de Bala Desejo

O álbum de estreia do grupo oxigenou a MPB com uma boa dose de nostalgia, um ode aos Novos Baianos, Doces Bárbaros e Rita Lee.

Não somente as referências levam para outros tempos, mas também a própria concepção do trabalho, dividido em lado A e lado B como no formato de vinil. A sonoridade solar e tropical destoa do momento qual o disco foi idealizado, a pandemia. Como se para comprovar, o álbum abre com a faixa "Baile de Máscaras (Recarnaval)", a fim de transportar o ouvinte a um momento mais alegre, de festança — ainda que paire sobre nós a fatalidade de anos difíceis.

Com participações técnicas como Tim Bernardes, Ana Frango Elétrico e Jaques Morelenbaum, o álbum apresenta uma banda que já nasceu madura, mas com muita sede de mudança e debate plural.