TOP 10: Bárbara Monteiro

A Bárbara selecionou os seus dez lançamentos preferidos de 2022 entre álbuns e EPs.

   10) meet the terrible, de Brvnks

Depois de bons singles, um ótimo EP e um álbum de estreia arrasador já com gravadora, a goiana Bruna Guimarães voltou da pandemia com seu tão esperado segundo disco. Nesse meio tempo ela também tocou no Lollapalooza e abriu show de artistas como Courtney Barnett, Basement, Wavves e Tigers Jaw.

A pressão pro segundo disco sempre é grande, e nota-se uma mudança significativa no som da BRVNKS, mas a própria artista afirma que o novo álbum a agrada mais que os trabalhos anteriores, e no fim das contas é isso que importa. Está mais dream pop do que rock alternativo, tem muito mais camadas sonoras e elementos, o vocal é mais agudo e mais suave e melódico. Ela está cantando cada vez melhor. Eu adorava as músicas com mais guitarra e peso, mas também amei as novas, principalmente "happy together", uma das que mais ouvi em 2022. Há várias referências a filmes nesse disco, já que Bruna é muito fã de cinema. E tem uma parceria com a banda Raça na ótima faixa "Sei lá".

Sempre achei a Bruna bem madura pra idade dela e com letras muito interessantes, mas nesse disco dá pra perceber bastante a virada da raiva adolescente por uma reflexão mais profunda causada por autoconhecimento e maturidade. Ir morar sozinha, fazer terapia, trabalhar muito, aguentar a vida em São Paulo, fins e começos de relacionamentos faz isso mesmo com a gente. Sou muito fã dela e espero que ela faça mais shows em 2023.

9) MOTOMAMI, de ROSALÍA

Foi impossível ficar imune aos hits da espanhola ROSALÍA em 2022. Com projeção mundial, ela estourou a bolha do alternativo e até veio tocar no Brasil, em show concorrido que esgotou e lotou (e já foi escalada pra voltar no Lollapalooza de 2023).

Misturando jazz, flamenco, pop, hip hop e R&B em um som original cheio de personalidade, ela me ganhou com "MOTOMAMI", "CHICKEN TERIAKI" e o hit de internet (e trilha de meme que eu amo) "BIZCOCHITO", o hino das minas invocadas no TikTok. Mas a melhor do disco é "SAOKO". Até o Obama é fã dela.

A mulher canta demais, faz arte, inspira, reverencia quem merece. Interessantíssima, com esse lindo disco merecia ter ganhado mais prêmios, mas certamente vai aparecer em todas as listas de melhores do ano.

8) Gêmeos, do Terno Rei

A banda de São Paulo fez tanto sucesso com o álbum Violeta que era grande a pressão do próximo disco. Mas eles não desapontaram! Gêmeos foi um grande sucesso de crítica e público, e os shows deles têm lotado como nunca. "Dias da Juventude" e "Aviões" são as minhas preferidas.

Este é o terceiro álbum da banda, que está mais entrosada e, apesar de apresentar músicas bonitas e um tanto melancólicas, agora soa mais enérgica e animada, com um som um pouco mais pesado. É um rock alternativo de personalidade particular, que dá pra cantar junto e que muitas vezes é triste, mas não é emo.

Em 2022 o Terno Rei também teve importantes conquistas além do lançamento de um novo álbum: tocaram nos importantes festivais Primavera Sound e Lollapalooza, além de realizarem as suas primeiras apresentações no exterior. Pra gente ter orgulho de ser brasileiro e dos excelentes músicos do nosso país!

7) RENAISSANCE, de Beyoncé

Queen B não é rainha à toa. Por mais que você não goste de pop, é impossível negar seu talento e majestade.

Depois do importante álbum Lemonade, que causou o meme dos fãs descobrindo que Beyoncé era negra por ser cheio de referências culturais, sociais e políticas afro americanas, foram seis anos sem lançamentos inéditos até a chegada do disco Renaissance. Mas não pense você que ela ficou parada! Depois de ter gêmeos, trabalhar em um filme do Rei Leão resgatando ainda mais suas raízes africanas e do excelente álbum EVERYTHING IS LOVE, feito em parceria com seu marido e colaborador de longa data na música Jay Z, sob o nome The Carters, teve ainda um filme e álbum ao vivo (Homecoming) com super produção e o marco de ser a primeira mulher a liderar a programação do Coachella. A bicha trabalha, e tudo que ela entrega é impecável.

Voltando ao lançamento de 2022, Renaissance impressiona por ser um disco de música eletrônica, cheio de hits pra se acabar de dançar na buatchy, cheio de riquíssimas homenagens à comunidade LGBTQIA+ e à cultura de clubes noturnos, sem deixar de lado sua essência afro. Não era o álbum pop que se esperava dela, mas é totalmente Beyoncé. Disco bom que não se pula nenhuma faixa e que podia deixar tocando inteiro em uma festa que a galera não desanimava. Um espetáculo.

6) Harry's House, do Harry Styles

Gostei muito dos dois primeiros discos solo do Harry Styles, que ficou famoso depois de integrar a boy band One Direction, formada no reality show The X Factor. É notório que Harry era o melhor integrante do grupo, e sua carreira solo sempre impressionou porque, apesar de jovem, já fazia um pop muito mais perene do que o usual, mais rico e interessante, do tipo que envelhece bem.

Harry's House é seu terceiro disco e já chegou recheado de hits, como "As It Was", "Late Night Talking" e "Music for a Sushi Restaurant". Gosto muito de "Matilda" também, uma balada agridoce melancólica com uma letra bastante interessante sobre as dores e as delícias de crescer, saber lidar com uma família abusiva e descobrir quem você é.

Com consistência e muita personalidade em uma carreira já extensa, Harry mostra que é muito mais que o hype, um artista completo com muito a oferecer.

5) Ascensão, do Black Pantera

O power trio mineiro de Uberaba finalmente está recebendo o reconhecimento que merece depois de tocar no Rock in Rio de 2022.

Ascensão já é o terceiro álbum da banda, que está em atividade desde 2014. O show deles foi o melhor que eu vi esse ano (e tive o privilégio de assistir duas vezes), confirmando que o disco faz muito bonito ao vivo também. Os três chamam a atenção pelo virtuosismo em seus instrumentos, principalmente o baixista Chaene da Gama. Mas não é nem de longe aquela exibição que cansa a plateia – pelo contrário, o Black Pantera encanta a todos e levanta a plateia num show intenso e enérgico onde todos participam. É uma festa de bate cabeça!

O som é um metal delicioso, que faria o Sepultura se orgulhar, isso sem contar as excelentes letras em português com muito conteúdo anti racista e antifascista. Se você não conhece, tá perdendo muito. Não vacila!

4) Reeling, do The Mysterines

Me apaixonei por essa banda à primeira ouvida. São quatro jovens de Liverpool, mas o som não é nada Beatles.

É rock inglês pesado com vocal feminino, porém uma voz bem peculiar, grave e anasalada (de Lia Metcalfe, que também toca guitarra e é a principal compositora do grupo). Mistura punk, grunge, metal tipo Black Sabbath e Motörhead com alternativo lindamente, além de referências dos anos 70 e 90.

A primeira música que ouvi deles, em uma rádio inglesa, foi "Life is a Bitch". Imediatamente fui atrás de tudo que podia da banda e descobri um álbum novinho, lançado este ano, com uma faixa melhor que a outra. Minha preferida é "Hung Up". Agora tô doida pra ver um show deles. É o primeiro álbum do grupo, depois de dois EPs também bons, mas com notável diferença pra melhor.

3) Midnights, da Taylor Swift

De acordo com minha retrospectiva do Spotify, esse foi o disco que eu mais ouvi no ano (considerando que ele foi lançado só em outubro e a lista é do fim de novembro, já dá pra sacar que eu viciei no álbum e fiquei escutando sem parar).

Nunca fui swiftie. Respeito muito a trajetória da Taylor, principalmente por ela ser compositora e instrumentista além de cantora e por ter enfrentado inúmeros casos de machismo de cabeça erguida, mas, apesar de gostar de algumas músicas, nunca consegui curtir um disco inteiro dela. Não era ruim, só não era minha praia. Muito country, muito popzinho água com açúcar de rádio FM… até agora.

Esse disco é o melhor da sua carreira: é maduro e riquíssimo, tem letras geniais (nisso ela sempre foi boa, temos que tirar o chapéu) e uma sonoridade deliciosa. Este é o décimo álbum da vencedora de 11 Grammys e, pela primeira vez, eu me identifiquei de fato com as letras — provavelmente por serem também mais maduras, com dramas um pouco mais adultos. Midnights foi um grande sucesso de crítica e também de público, quebrando vários recordes: foi o disco com mais plays em um único dia no Spotify, fez Taylor se tornar a primeira artista da história a conquistar todos os top 10 da lista Billboard de uma só vez (e o topo da lista pela 9ª vez em sua carreira), vendeu mais de um milhão de discos físicos nos EUA só na primeira semana de lançamento (recorde mundial e na era do streaming). É realmente impressionante, e quem ainda torce o nariz contra ela está apenas sendo um chato do contra.

O disco prende o ouvinte do começo ao fim, até na sua versão extendida que tem 7 faixas extras. A lista original apresenta 13 faixas, sendo que cada uma conta a história de uma madrugada em claro que a Taylor passou, seja por motivos bons ou ruins. Destaque para “Lavander Haze” (que letra!), “Anti-Hero”, "Bejeweled", "Karma" e "Maroon". Na versão estendida, confira "Paris". A única questão do disco foi a parceria com a Lana Del Rey em "Snow on the Beach". A música é ótima, mas Lana aparece pouco, só nos backing vocals, o que frustrou muitos fãs.

2) Autointitulado, do Autoramas

Depois da pandemia, a banda voltou com tudo em 2022 com um dos melhores discos de sua já extensa carreira. Liderada pelo incrível Gabriel Thomaz, o homem que mais trabalha na música brasileira, o Autoramas já acumula 24 anos de estrada e segue vivo e muitíssimo bem, obrigado.

Com letras inteligentes em português, o álbum retrata perfeitamente a energia caótica da saúde mental abalada dos brasileiros, cheio de críticas sociais e políticas. Dramas pessoais, ansiedade, noias, falta de tempo, válvulas de escape, vícios — está tudo lá. Há inclusive duas faixas com participação especial do Dead Fish, banda que chegou aos 31 anos como ícone do hardcore antifascista brasileiro.

O som do álbum é um rock bem garageiro, com referências de punk, rockabilly, new wave, jovem guarda, surf music e as já tão características guitarras em destaque. Os vocais, divididos entre Gabriel e Erika Martins, têm harmonias perfeitas. As canções não deixam de ser pop e, cativantes, convidam a cantar junto. Ao vivo, então, esse disco novo é um espetáculo. Tive o privilégio de assisti-los esse ano e, depois da era marcante do power trio Gabriel-Bacalhau-Flávia Couri, essa é a melhor formação do Autoramas: hoje um quarteto, além de Gabriel e Erika, a banda conta com Jairo Fajersztajn no baixo e Fabio Lima na bateria.

1) Special, da Lizzo

A cantora americana Lizzo chega ao seu quarto álbum no auge da sua carreira; e é bom demais ver uma mulher negra e gorda no topo.

Ela tem recebido todo o reconhecimento que tanto merece, tem um dos melhores shows do mundo, com banda e balé formados por mulheres pretas. Seu discurso de auto aceitação, força e críticas a padrões é ainda necessário nos dias de hoje e seu talento é inegável — excelente cantora, rapper, compositora, dançarina e flautista, ela merece todos os louros.

Special contém o mega hit “About Damn Time”, mas todas as faixas são boas e não tem como ficar na bad ao escutá-lo. É praticamente um antidepressivo em forma de música. A era de ouro da black music aparece sem soar datada, com um som riquíssimo e produção impecável. Disco do ano!