TOP 10: Henrique Ferreira

O Henrique selecionou os seus dez lançamentos preferidos de 2021 entre álbuns e EPs.

   10) SOUR, da Olivia Rodrigo

Em seu álbum de estreia, Olivia Rodrigo teve um desempenho altíssimo e isso foi reflexo de amores que não deram certo, melancolia e ansiedade. A galera pegou gosto pelo SOUR na viralização de algumas músicas como "Drivers License" e "Good 4 U". A segunda delas tem um quê de Paramore, o que fez com que a artista tivesse que dividir os créditos com a vocalista da banda, Hayley Williams, e o ex baixista Josh Farro na composição do smash hit depois de um rebuliço de plágio.

Será que para uma artista com pouquíssimo tempo na indústria isso pega mal e fazem vista grossa? Eu não sei, mas sei que SOUR se tornou um fenômeno, já que Olivia foi indicada em seis categorias incluindo Artista Revelação no Grammy Awards, a maior premiação da indústria da música.

Esse sucesso inclusive é tão grande porque reflete nas inseguranças e angústias dessa nova geração trazendo a história de uma jovem de 18 anos de uma forma natural que pegou fãs de outros meios musicais. Como o próprio nome diz, SOUR é amargo mas de uma forma diferente porque vimos isso com outros artistas que lançam canções com letras extremamente melancólicas e melodias alegres para dar uma maquiada e isso é excelente pois o álbum teve uma das maiores estreias de 2021.

SOUR é um álbum honesto, íntimo e Olivia tem TUDO na mão para tornar os próximos trabalhos tão maravilhosos como foi este primeiro.

9) Te Amo Lá Fora, da Duda Beat

Duda Beat e Lux & Troia mostram com segurança, sofrência e com uma pegada mais fria que o novo álbum Te Amo Lá Fora nasceu e o filho mais novo da cantora tem um quê de tecnobrega que gruda na cabeça e vai fazer você querer dançar e sofrer enquanto ouve.

Com uma exploração rítmica temos um sucesso inegável e hits que irão acompanhar a artista pelos próximos anos, a cartada regional da cantora é extremamente forte e convincente, fazendo desse um trabalho viscoso e melodramático a ponto de não perder a sua base e a essência.

O segundo disco não deixa de surpreender e mais uma vez (felizmente ou não) encaixa bastante na realidade de nossas vidas amorosas. A pernambucana não erra NUNCA e isso fica explicito com Te Amo Lá Fora. A parte visual está impecável e os clipes cada vez melhores com direções imersivas e bem criativas.

8) COR, de ANAVITÓRIA

O duo Anavitória abriu 2021 com uma obra prima feita com carinho, amor e participações maravilhosas.

COR é uma forma gostosa e divertida de abrir um ano e elas fizeram isso com maestria e tons suaves e delicados. A dupla do Tocantins evidencia a sua segurança ímpar ao mostrar esse álbum ao público.

É perceptível a evolução do duo quando você pega faixa a faixa e vê que os arranjos, produção e o talento vocal das meninas estão alinhados e em completa ascensão. Cada música ganhou um vídeo exclusivo e estão disponíveis no Youtube e servem para dar mais vida e um ar mais leve ao ouvir o álbum. Ana Caetano e Vitória Falcão colocam sua identidade visual e todo seu talento à prova sem perder a essência em uma experiência gostosa que chamamos de COR.

7) Batidão Tropical, de Pabllo Vittar

A drag mais poderosa da atualidade vem com um álbum (podemos chamar de álbum mesmo sendo de 23 minutos produção? Não seria EP?) com raízes nortistas/nordestinas e fala que piranha também chora!

Pabllo Vittar quer mostrar a cultura que está no seu sangue para o mundo e a dona de smash hits faz isso de novo com Batidao Tropical, nos redirecionando para o universo da cantora que passou a sua infância e adolescência inteira no nordeste brasileiro. Batidao Tropical é uma representação de sua vida e a face de uma indústria musical nacional que é criativa, nostálgica e fora da curva.

Com um álbum dançante e fortíssimas referências a gêneros brasileiros dos anos 2000 como forró, tecnobrega, tecnomelody e carimbó, a artista põe a sua identidade em jogo mesmo que isso não seja agradável a todos. Ela deu a cara a tapa e não está ligando para as críticas, pois essa foi a identidade cultural da artista. Rainha que fala?

6) Happier Than Ever, da Billie Eilish

Billie Eilish nos presenteia com seu segundo álbum e, definitivamente, impõe que é uma das maiores vozes da nova geração - algo posto à prova quando ela ganhou as quatro principais categorias do Grammy Awards em 2019, graças ao estrondoso álbum WHEN WE ALL SLEEP, WHERE DO WE GO?.

Happier Than Ever é o resultado de uma maturidade construída na parceria inegavelmente brilhante de Billie e seu irmão Finneas. Parceria essa que levou a cantora para a trilha sonora de 007 No Time To Die e transformou Finneas em um dos produtores mais procurados na indústria musical.

No decorrer do álbum ouvimos músicas serem feitas mais uma vez como diário e em formas e tons diferentes sem perder o que realmente é. Billie expõe seus relacionamentos abusivos e o seu amor de uma forma que anestesia quem ouve no decorrer de quase um hora de álbum. Visualmente, a cantora californiana deixa de lado o Chroma Key e usa de todos os outros recursos para nos presentear com obras primas como é o videoclipe de "Your Power", "Happier Than Ever" e outros.

Se com pouca idade e com uma carreira relativamente nova já nos é mostrado a qualidade sobre esse trabalho imagina o que será mostrado daqui pra frente.

5) Pirata, do Jão

A sofrência do menino do interior paulista parece não haver fim e, felizmente, vimos um pouco disso nas onze faixas de seu terceiro álbum, denominado Pirata.

Como a carta que Jão soltou antes de lançar o álbum mesmo diz, Pirata consiste de músicas eufóricas, barulhentas sobre o arco de recomeços de uma nova fase de sua vida. Com uma exposição íntima que foi vista indiretamente em outras músicas, Pirata nos mostra um lado dele que gostamos. Em "Meninos e Meninas", vemos a sua carta aberta a bissexualidade, enquanto observamos no decorrer de todo o album - que e solido e sem muitas amarras - que o amor, o sexo, as descobertas e despedidas acontecem e isso é normal. Com uma legião de fãs na fase da descoberta sobre a vida, mostrar isso de um lado artístico e um tanto quanto bonito.

No lado audiovisual a gente pode se deliciar mais uma vez com uma obra prima que é o universo criativo da mente de Pedro Tofani que é amigo do cantor, produtor, diretor e também compositor. "Não Te Amo" e o teaser de Pirata, que foi visto por centenas na audição do álbum em um teatro na capital paulista, nos mostram que eles não estão de brincadeira.

Pirata é construído com maturidade, vulnerabilidade, coragem, liberdade e amor. Mostrar isso sem medo de ser mal visto causa um conforto no coração daqueles que ouvem e absorvem esse trabalho.

4) 30, da Adele

Adele retornou após um longo hiato e nos entregou algo que superou as nossas expectativas.

O quarto álbum de estúdio da britânica chega como uma pancada e aborda o seu pós divorcio. Algo tão pessoal e íntimo que chega a ser como ler seu diário. Ali vemos sua vulnerabilidade exposta esperando por um estancar. Isso resultou em um trabalho que conta até com áudios do seu filho na música "My Little Love".

O poder de Adele é tão grande que, a pedido dela, o Spotify retirou o modo aleatório do álbum, para que as pessoas pudessem ouvi-lo como ele foi construído, faixa por faixa. E é desse jeito que passamos pelos 58 minutos de 30 em puro deleite com canções longas, desafiando uma era que vimos e ouvimos grandes hits com menos de dois minutos.

3) Scaled And Icy, do Twenty One Pilots

O duo norte-americano formado por Tyler Joseph e Josh Dun simplesmente entregou o que, para alguns, é o melhor álbum de sua carreira.

Eles nos mostram em Scaled And Icy um álbum maduro, diferente, com qualidade e com melodias pop dançantes que disfarçam o peso das letras.

Completamente diferente por ser um álbum mais alegre e nostálgico - graças aos seus tons oitentistas, o álbum funciona como um escape para essa época pandêmica e, por isso, é intencionalmente mais leve. Com tudo isso, o Twenty One Pilots mostra claramente que dá para transitar entre ritmos e nao perder a essência.

2) Solar Power, da Lorde

Depois de um longo período em hiato, a cantora neozelandesa abre o coração e põe vida ao sucessor do incrível e estrondoso Melodrama.

Solar Power é um álbum leve, intimista e minimalista, que bebe na fonte do folk pop e isso é mostrado tanto nos arranjos, quanto nas melodias e nas fotografias jogadas por Lorde nas praias no verão neozelandês.

A artista mostra um trabalho totalmente diferente do que foi feito em Pure Heroine e Melodrama, nos presenteando com uma sensação nova e gostosa em seu novo álbum, co-produzido com Jack Antonoff, que trabalhou com Taylor Swift e Lana Del Rey recentemente.

Solar Power é íntimo e nos mostra evolução de Lorde, suas batalhas internas e finais de relacionamentos. Ela entrega um trabalho sólido e gostoso de apreciar, um álbum que precisa ser entendido e digerido devagar para uma melhor imersão e entendimento do que a cantora nos quer mostrar. Uma artista com várias facetas e extremamente mutável.

1) Vou ter que me Virar, da Fresno

A Fresno nos mostra novamente que pode sempre superar o último trabalho e isso se repete em Vou ter que me virar.

O trabalho foi anunciado após o lançamento quase que diário de uma coletânea intitulada INVentário, que foi revirada em meio a loucura que é a vida de Lucas Silveira, vocalista da banda. Inclusive, músicas do Vou ter que me virar são requentadas e remixadas (novamente e novamente) de outros projetos da Fresno. É um ato genial que nos entrega 11 faixas melancólicas e com críticas políticas.

Todas as músicas, que são autorais e independentes, foram gravadas antes da saída do tecladista Mario Camelo em agosto deste ano. Agora como um trio, formado ainda por Gustavo Mantovani e Thiago Guerra, a Fresno carrega o peso que é ser uma banda com mais de 20 anos de estrada. E fazem isso muito bem.