TOP 10: Gabrielle Caroline

A Gabi selecionou os seus dez lançamentos preferidos de 2021 entre álbuns e EPs.

   10) Voyage, do ABBA

Depois de 40 anos sem lançar um trabalho inédito, ABBA está de volta com Voyage! E ele é um bom disco. É ABBA em sua essência: meio brega como gostamos e com boas músicas para dançar, ainda que um pouco mais calmo, letárgico e demorando para se encontrar durante as 10 faixas que compõem o álbum.

É, claro, começar um disco com a brega e comprida demais "I Still Have Faith In You" é uma péssima ideia, mas Voyage ainda tem ótimos momentos: a sequência "Don't Shut Me Down" e "Just a Notion", que mostram a elegância que o grupo sempre teve em suas letras, "No Doubt About It", mais upbeat e que lembra os grandes hits dançantes do ABBA, e a charmosa "Ode to Freedom", que finaliza o trabalho.

Sem se importar com a música que está sendo feita nos dias de hoje, o ABBA traz um disco cheio de nostalgia, feito mais para fãs do que para o ouvinte que quer conhecê-los ou para quem busca música pop atual para festas. Como uma grande fã do grupo, é impossível deixar de admitir que fui pega por isso e fiquei emocionada com tudo que envolve esse comeback e não poderia deixá-los de fora da minha lista.

9) Red (Taylor's Version), da Taylor Swift

Em sua versão do Red, Taylor Swift pegou um clássico, melhorou a maioria dos pontos que poderiam ser mais bem tratados em sua primeira versão e devolveu um Red dezenas de vezes melhorado para o público - e para seu catálogo.

Os erros ainda estão lá — a existência de "Starlight" é um deles —, mas eles são minimizados pela sutileza dos novos arranjos e pela voz amadurecida de Taylor Swift.

No fim, todos os motivos desse disco ocupar essa posição nessa lista poderiam se resumir a vulnerável e cruel versão de 10 minutos de "All Too Well", mas é impossível não elogiar também as músicas novas que agora fazem parte da tracklist do disco — especialmente a parceria com Phoebe Bridgers em "Nothing New" — ou todo o projeto visual que o acompanha.

8) Indigo Borboleta Anil, de Liniker

É impossível não amar um disco que tem uma música em homenagem ao animal de estimação do artista. Exatamente por isso, é impossível não amar Indigo Borboleta Anil, mas existem outras razões para isso também.

Em seu primeiro trabalho após a separação dos Caramelows, Liniker prova que é uma das maiores artistas brasileiras ao criar um trabalho deliciosamente original, mesmo fazendo referências à todas as suas inspirações musicais, com uma sonoridade que vai do R&B ao reggae a MPB sem dificuldades e com toda naturalidade possível.

Um ótimo início de carreira solo para alguém que já havia mostrado todo seu potencial em um grupo.

7) Montero, de Lil Nas X

Desde quando surgiu no cenário da música com "Old Town Road", Lil Nas X tem surpreendido a todos ao assumir o papel de um novo, provocador e engraçado de artista pop em um cenário dominado pelas tradicionais cantoras e por um grupo de homens que fazem música pop, mas não se importam tanto assim com suas performances (vide Ed Sheeran vestindo jeans e camiseta para qualquer show).

Em Montero, seu primeiro disco, ele se firmou como esse artista, sem deixar de lado as questões emocionais. Lá estão as letras sobre autoconhecimento e auto aceitação, assim como as divertidas e sexualemente carregadas músicas sobre sucesso e dinheiro, todas transformadas no ótimo hip hop feito por ele.

O único defeito desse disco? A parceria com Megan Thee Stallion é curta demais.

6) CALL ME IF YOU GET LOST, do Tyler, The Creator

Ter um disco ótimo de Tyler, The Creator não é lá uma grande novidade: ele entrega discos impecáveis desde Flower Boy, de 2017, e até os anteriores a esse — principalmente o Goblin — tem momentos melhores do que os de muitos artistas por aí.

CALL ME IF YOU GET LOST é mais um desses exemplos: misturando jazz, synth pop, soul e hip hop à letras sobre romances (algo que ele sabe contar como ninguém) e autoconsciência — e contando com uma inesperada produção e parceria de Jamie, do The XX — Tyler, The Creator rompe barreiras e conseguiu criar o que é o seu trabalho mais fascinante. Pelo menos até o lançamento de seu próximo disco.

5) If I Can't Have Love, I Want Power, da Halsey

Mais um disco que faz parte do revival do pop punk atual, If I Can't Have Love, I Want Power não se limita apenas a esse gênero, passeando também pelo grunge e o rock industrial, e ainda se diferencia dos demais por sua temática.

Produzido por Trent Reznor e Atticus Ross, do Nine Inch Nails, — a quem se deve o crédito do quarto disco de Halsey ser também o seu mais sombrio — o trabalho é uma narrativa visceral, deliciosamente teatral e liricamente complexa sobre as alegrias e horrores da gravidez e do parto.

O disco também não deixa de lado um pouco de nostalgia: a sonoridade do rock dos anos 90, período da infância de Halsey, forma a combinação perfeita para fazer de If I Can't Have Love, I Want Power um dos grandes trabalhos lançados desse ano.

4) Batidão Tropical, de Pabllo Vittar

Em seu quarto disco, Pabllo Vittar se firma como um dos maiores nomes do pop no Brasil e aproveita sua visibilidade para apresentar suas próprias inspirações para os fãs.

O resultado disso é um disco cheio de ótimas versões de músicas que se tornaram populares na voz de artistas de forró e tecnobrega, como Companhia do Calypso e Ravelly, além de três originais da artista e de seu time de compositores e produtores que são influenciadas por essa sonoridade.

Batidão Tropical é pura síntese do pop feita por uma parte do Brasil que Pabllo Vittar está se esforçando para nos mostrar que deveríamos prestar mais atenção.

3) lately I feel EVERYTHING, da WILLOW

Willow é uma artista interessante: desde sua estreia, lançando uma das melhores músicas pop de 2010 até agora, 11 anos depois, ela consegue trabalhar muito bem com diversos gêneros musicais sem parecer sem identidade ou perder a qualidade.

lately I feel EVERYTHING é uma prova dessa versatilidade. Em seu quarto disco, ela anda pelo pop punk, o indie rock e o nu metal em uma obra pessoal, enérgica e mais honesta do que seus trabalhos anteriores — "F**k You", música onde instrumentos completamente fora de ritmo são tocados enquanto Willow grita "Fuck you for fuckin' up my heart", é a maior prova disso.

Com parcerias de Avril Lavigne e Travis Barker — um dos grandes participantes da nova onda de pop punk que vem se formando ultimamente — lately I feel EVERYTHING é um disco com um único defeito: saber que Willow provavelmente vai mudar sua sonoridade em seu próximo trabalho e não continuará a fazer o que foi apresentado aqui é uma grande tristeza para qualquer fã de música.

2) SOUR, da Olivia Rodrigo

Sofrimento para adolescentes e pessoas de 20 e tantos anos que ainda sofrem como eles — ou só se sentem ansiosos e não conseguem se encaixar nos lugares: é disso que é feito o disco de estreia de Olivia Rodrigo. E ter um disco tão bem feito — créditos à produção de Daniel Nigro aqui — e bem sucedido logo de primeira é uma vitória para quem acabou de conseguir sua carteira de motorista.

Com suas composições sobre corações partidos, relacionamentos fracassados, ciúmes e ansiedade somadas à sonoridade inspirada por artistas pop punk do início dos anos 2000 e por Taylor Swift, SOUR conseguiu conquistar todos os públicos de uma maneira que pouquíssimos artistas - ainda mais os iniciantes - conseguiram.

Com apenas 11 faixas, ele é um disco curto, ideal para uma geração de ouvintes que prefere músicas curtas, mas divertido de se ouvir e impossível de não se identificar — seja pelos dramas atuais que vivemos ou por dramas amorosos que já foram vividos em algum ponto de nossa vida.

1) Patroas 35%, de Marília Mendonça e Maiara e Maraisa

Em grande parte, o sertanejo sempre foi um mundo dominado por homens cantando suas próprias visões sobre a vida no campo, que, com o passar do tempo, deu lugar à histórias sobre festas, bebedeiras, sofrência e visões preocupantes sobre relacionamentos. É claro que existiram artistas solo e duplas sertanejas formadas por mulheres que cantavam suas próprias vivências nas músicas, mas nenhuma delas se compara à Marília Mendonça.

Com suas histórias envolventes, incrível capacidade de criar refrões que poderiam ser repetidos à exaustão sem se tornarem chatos e voz incomparável, Marília é única. Ela contou histórias sobre a vida de mulheres reais, que se apaixonavam, se decepcionavam, traiam e eram traídas, adoravam uma bebedeira e uma festa. Marília se tornou a amiga que nós adorávamos ter por perto, mesmo que virtualmente. Era impossível não se identificar com ela ou admirá-la.

Por isso, unir uma das maiores compositoras brasileiras da história, que também é uma das mais populares cantoras do país, à Maiara e Maraisa, uma das duplas mais celebradas no Brasil, era algo que não podia dar errado. O Patroas 35% é fruto de mais do que a união profissional entre essas três artistas: ele é um laço da amizade e camaradagem entre elas, algo que pode ser ouvido nas nove faixas do trabalho. E é até interessante ouvir como Marília Mendonça domina a maioria das músicas, deixando as vozes de Maiara e Maraisa como secundárias, e isso não parece incomodar nenhuma das três — algo que raramente aconteceria com outros supergrupos de artistas.

Apesar de ser um álbum curto, que nos deixa com o sentimento de "quero mais" assim que acaba, o Patroas 35% é interessante por apresentar um material inédito, todo escrito do ponto de vista feminino, com músicas fáceis de gostar, de decorar (é impossível ouvir "Esqueça-me Se For Capaz" sem ficar com o refrão na cabeça ou não se identificar com a situação apresentada em "Não Sei O Que Lá") e sonoridade que, apesar de conter todos os elementos do sertanejo universitário que dominou o Brasil nos últimos anos, não deixa de ser pop.

Patroas 35% é um disco feito para apresentações ao vivo, para ser cantado pelo público e que tem faixas que ganharão inúmeras versões dos novos artistas sertanejos — e, por que não, de outros gêneros musicais? — daqui para frente. Ele é um clássico instantâneo de um gênero que pertencia a um nicho antes de Marília Mendonça aparecer, com suas letras, personalidade e suas fiéis amigas Maiara e Maraisa, e torná-lo acessível e amado até para aqueles que não tinham o menor interesse nele. E, justamente por isso, é extremamente cruel ter que escrever que esse foi o último trabalho lançado por Marília Mendonça em vida.

Por tudo que Patroas 35% representa para a música brasileira e ainda representará, ele é meu disco #1 desse ano.